Começa amanhã a 3º Edição da Casa Fantástica, espaço de Literatura Fantástica com Fantasia, Horror e Ficção Científica, na sua primeira versão 100% online e talvez a mais importante de todas. O que você deve esperar?
A Casa Fantástica foi concebida pela Priscilla Lhacer, editora da Presságio, como um espaço a ser ocupado durante o Festival Literário de Paraty (FLIP) em 2018. Com mesas de discussão sobre literatura especulativa, espaço de lançamento de autores, stand de editoras de nicho, a primeira edição da casa foi uma verdadeira invasão de um evento cultural bastante focado no que os críticos gostam de chamar de alta literatura (pausa para o suspiro). Pela primeira vez o evento contava com um espaço para discutir horror, fantasia, ficção científica, os monstros da literatura, o poder da trilogia, a representatividade negra nos mundos de fantasia.
Sem muitos recursos, com pouca divulgação, contando com muito esforço da Priscilla e de todos os envolvidos, o evento foi um grande sucesso, ao ponto de faltar espaço para acomodar o público de algumas mesas. Nos intervalos tínhamos a oportunidade de conversar com os autores, autografar os livros, tirar dúvidas, trocar contatos e formar amizades. Quando o evento terminou todos tinham àquela sensação de fim de férias de verão, quando é hora de voltar para casa.
Foi com grande assombro quando, dias mais tarde, descobri que apesar do imenso público a Casa Fantástica 2018 não tinha conseguido fechar as contas, o que colocava em dúvida a repetição do evento no ano seguinte. Foi como receber uma punhalada. Um evento como aquele não podia simplesmente desaparecer. Lamentei muito aquela informação e me disponibilizei para a ajudar caso a Priscilla Mudasse de ideia. O que, felizmente aconteceu.
Minha participação na Casa Fantástica 2019 foi basicamente dar suporte para a criação das artes de divulgação. Contrariando as expectativas causadas pelo ano anterior, o evento foi ainda maior, em uma nova casa, com mais mesas, mais estandes, mais parceiros. A casa foi palco para o prêmio Argos, movimentou centenas de pessoas e, o mais importante de tudo, furou a bolha da ficção especulativa, trazendo um público de fora, não envolvido com a cena, que motivado por simples curiosidade se sentou e assistiu alguma das palestras incríveis que aconteciam ali dentro. O sucesso era absoluto e quando fechamos as portas, a Casa Fantástica 2020 era uma certeza irrevogável.
Eu escrevo esse artigo de casa e você, provavelmente, o está lendo de casa. Um ano atrás ninguém imaginou que algo assim seria possível, mas aqui estamos, isolados enquanto assistimos o mundo encontrar seu caminho para o novo normal. Antes disso, porém, a Casa Fantástica 2020 parecia um projeto difícil. Havia alguma coisa no ar, dizia a Priscilla, e ainda não era o vírus e então, como todos sabem, a FLIP foi cancelada. Nunca duvidem do sexto-sentido de uma bruxa.
Confesso, fiquei arrasado. O auge de 2019 para mim havia sido a Casa Fantástica. Amarguei uma série de derrotas, o dinheiro acabou, escrever se tornou o último bastião do que eu tinha de sanidade, esperava a oportunidade de ver alguns amigos que se tornaram queridos em 2020, seria um alento em um ano que tinha sido muito difícil e que agora se tornava insuportável e foi o que eu disse: 2020 começou a dar errado quando a Priscilla cancelou a Casa Fantástica, mais vozes se somaram a minha, a bruxa-madrinha da literatura fantástica nacional nos ouviu e a Casa renasceu, para colocar as coisas em sua devida ordem.
O que faz mais sentido em tempos como os nossos do que a literatura fantástica? Quem entende melhor da distopia em que vivemos do que a ficção científica? Quem fala melhor de coragem e sacrifício do que a fantasia? Quem entende mais do medo da perda do que o horror?
Costumo dizer que a arte se sustenta sobre duas pernas: conexão e confronto, motores de uma roda que gira sem parar. É confrontando a realidade que a arte se faz necessária e é se conectando com o público que ela se faz útil. Não por menos, os artistas são os primeiros a ser perseguidos pelo autoritarismo e é exatamente neste ponto em que nós estamos.
A cultura sofreu uma série de derrotas nos últimos anos, a educação se reduziu a moeda de barganha. A pandemia atropelou os eventos culturais, acabando com milhares de empregos, apagando centenas de projetos. Teatro, Cinema, Shows, Lançamentos, tudo desapareceu exatamente quando se tornava ainda mais necessário.
A Casa Fantástica 2020 fala sobre resistência. A Casa resistiu ano após ano, contra todas as adversidades se tornando algo ainda maior no ano seguinte e este ano não vai ser diferente. Na sua primeira versão online, a Casa Fantástica abriu suas portas para a literatura especulativa se conectar e confrontar, convidando grandes artistas do cenário para discutir a repressão, a exclusão, a marginalidade, o preconceito, o autoritarismo e como a literatura nos ajuda a identificar e enfrentar os males da sociedade. Na sua terceira edição, será a primeira que eu não vou me sentar em uma mesa e o motivo para isso é muito simples: estarei ali para ouvir e me conectar, entender como passaremos por esse momento difícil com mais força e coragem do que iniciamos.
Se você acha que está sozinho com tudo o que acontece ao seu redor, este evento é feito exatamente para você.
Façam arte. Os filhos da puta odeiam arte.
Mediação: Ana Rusche
Participantes: Lavínia Rocha; Sandra Abrano; Peter Larubia; Thiago Prada
Mediação: Mario Bentes
Participantes: Cid Vale Ferreira; Thiago Tizzot; Lizandra Magon de Almeida; Adriana Chaves
Mediação: Lígia Colares
Participantes: Nikelen Witter; Fabio Fernandes; Simone Saueressig
Mediação: Agatha Christie
Participantes: Claudia Dugim; Vinícius Fernandes; Johann Heyss
Mediação: Sabine Mendes
Participantes: Israel Reu Neto; Jonatan Magella; Raquel Almeida
Mediação: Carolina Mancini
Participantes: Sirlene Barbosa; Waldson de Souza; Tiago Nhandewa; Gabriele Diniz
MEDIAÇÃO: Raphael Fernandes
Participantes: Luiza Lemos; Luiz Fernando Menezes; Rogério Faria; Tainan Rocha; Marcelo de D’Salette
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