No dia 19 de maio, Daenerys a rainha louca, dava seu último suspiro na televisão, deixando a todos chocados. Cheio de polêmicas – e muita insatisfação – o final de Game of Thrones, baseada na série de livros A Canção do Gelo e Fogo de George R. R. Martin, acabava, deixando milhões de órfãos pelo mundo e uma pergunta:
Um ano depois e, sem nenhuma surpresa, o trono continua vago.
Apesar de alguns excelente lançamentos da HBO, Netflix, Amazon e Disney, empresas que competem em plataforma de streaming, nenhuma delas emplacou nada semelhante ao que foi o frenesi causado pela sanguinolenta história da família Stark e seus conterrâneos. Mesmo as séries que vinham na esteira da série, atraídas por um público que descobriu gostar de fantasia, aventura, grandes batalhas medievais e (claro) dragões, não tiveram força o suficiente para assumir a coroa.
É possível que o problema tenha sido a própria série que povoou o imaginário do público por oito temporadas e tenha causado alguma saturação, ou talvez a decepção com o fim da série tenha sido o suficiente para as pessoas ficarem mais criteriosas sobre onde depositar o seu tempo. A terceira opção é o próprio modelo de lançamento das plataformas de streaming e o hábito de maratonar temporadas inteiras em um fim de semana.
Lost, Game of Thrones, Breaking Bad, Prison Break, 24H, foram séries de alto engajamento do público e, na minha opinião, isso acontecia por dois fatores: Nós nunca sabíamos o que iria acontecer no próximo episódio e a gente tinha uma semana para tentar descobrir. A combinação de imprevisibilidade das séries com o tempo que precisávamos matar até conseguirmos respostas (e mais e mais perguntas), nos mantinham presos na história para além da duração dos episódios.
Entre um episódio e outro era o tempo em que os fãs teciam teorias, shippavam personagens, faziam fanfics, fanarts e alimentavam blogs com todas as curiosidades possíveis sobre as séries. Era a forma de manter a história viva, enquanto a verdadeira história não chegava.
Ao lançar temporadas inteiras de uma série os serviços de streaming acabam trocando esse barulho a longo prazo por um estardalhaço de algumas semanas. O resultado é um público menos engajado.
Claro, estou teorizando, a resposta raramente é tão simples, mas me parece sintomático que as séries que têm mantido o interesse do público por mais tempo são justamente as que não entregam toda a história de uma vez, como acontece com West World, que apesar do engajamento muito menos expressivo que Game of Thrones tem um desempenho constante até a sua terceira temporada (o que também é digno de nota, já que nem mesmo Game of Thrones emplacou logo nas primeiras temporadas).
Outro exemplo é Walking Dead, que a anos vêm sofrendo com as críticas do público sobre a qualidade dos episódios desde sua segunda temporada, mas mesmo assim chega ao seu nono ano.
O maior sucesso da Netflix, La Casa de Papel, uma história sobre assalto a banco com piruetas mirabolantes (e inverossímeis, mas quem liga?) de roteiro é outro exemplo para suportar a teoria. Os episódios terminam em excelentes ganchos, nós nunca sabemos o que vai acontecer no episódio seguinte, porém não temos tempo para confabular a respeito, nos restando os memes e algumas piadas de vida curta no turbilhão de informação da internet.
Talvez o herdeiro de Game of Thrones ainda não tenha surgido, justamente porquê nos o maratonamos e enjoamos dele, antes de conhece-lo direito.
There are no products |