A nova publicação da revista mafagafo é uma história de H.Pueyo, editada por Flávia Lago e ilustrada por Dante Luiz. Conta a história de uma médica especialista em gūls, que se alia com uma dessas criaturas para tentar localizar seu mentor desaparecido.
Pueyo tem uma prosa bastante confiante, os personagens são muito claros em suas intenções e fáceis de se afeiçoar. Mesmo os secundários, ou aqueles a quem só ouvimos falar, são atraentes e nos fazem querer saber mais sobre sua história.
Ariadne, como personagem principal, é quem segue o fio através do labirinto da história, nos levando através dos horrores de seu passado, até uma espécie de emancipação, aceitando quem ela se tornou agora. A personagem passa longe de ser uma mocinha em perigo, mesmo sabendo de sua fragilidade em meio de monstros, ela os encara sem medo, ganhando respeito através do desafio.
Minha mãe também tinha dez [presas] no seu auge, mas meu pai tinha sete. Você precisava ver o estrago que aquela criatura minúscula conseguia fazer. — Quaint coçou o queixo, os anéis brilhando na luz. — Eu morria de medo quando criança. Não que ela seja nem um pouco menos aterrorizante com oito pares.
A história, que se passa no Brasil, entre Espírito Santo e o Rio de Janeiro, é uma excelente apresentação dos personagens e do universo desenvolvido por Pueyo, que consegue fazê-lo sem deixar aquele sabor professoral de infodumping. A história é flúida e orgânica, passeando por temas diversos (e as vezes cabeludos), mas deixando a quantidade correta de pontas soltas, para você querer saber mais sobre todo aquele mundo.
O enredo funciona sem falhas, mas senti falta da sensação de perigo que era de se esperar em uma história envolvendo uma sociedade de monstros canibais. Entendo a coragem que Ariadne demonstra a todo momento, mas senti falta, como leitor, de temer por ela ou pelos outros personagens. Em nenhum momento você sente que algo pode terminar mal, ou que alguém pode acabar se machucando, o que prejudicou bastante a tensão da história para mim.
Com grande experiência em publicações nacionais e internacionais, H. Puyeo é uma daquelas pessoas a quem devemos acompanhar. Cabaré em chamas é a introdução ideal para um universo que tem tudo para se expandir e enriquecer e eu espero com ansiedade para ver o futuro destes personagens.
A edição, como é de se imaginar, segue cabrichada. O texto foi polido até não restar nenhuma aresta e encontrar qualquer erro renderia ao leitor o antigo prêmio cata-piolho (e com essa eu entrego a minha idade).
Nesta edição a Mafagafo abandonou o seu antigo formado de download e a leitura é feita diretamente em um link na tela. Tornando-se mais prático e direto, mas perdendo um pouco do conforto das versões em e-book. Senti falta de jogar o arquivo no kindle, mas resisti a tentação de fazer isso manualmente, apenas para testar o conforto da leitura. Achei um pouco cansativo, mas viável se você ampliar o texto com zoom para reduzir o tamanho da coluna. Não chega a ser um demérito, mas definitivamente a mudança não foi um mérito.
A Revista Mafagafo é uma publicação gratuita, editada por uma equipe de pessoas apaixonadas por literatura fantástica. Esta edição conta com a mão de Fernanda Castro, Jana Bianchi e Giovanna Cianelli e eu acho que vocês deviam perder menos tempo lendo essa resenha e correr para ler a história.
Depois comentem o que vocês acharam.
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