Um pedido de desculpas
On June 2, 2014 | 2 Comments
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Herbert Railton’s illustration of the Earl of Pembroke’s tomb

Sempre tento explicar que comecei o Chamas do Império de trás para frente. Como o Merlin do livro de T.H. White que estava voltando no tempo, que nasceu velho, muitos e muitos anos no futuro e foi voltando ao passado, sabendo o amanhã e sem idéia sobre o ontem. O Chamas do Império não nasceu com esse nome e nem com essa idéia. De verdade, a história que eu queria contar se passava muitos e muitos anos apos a morte de todos esses personagens. Alguns deles tinham se tornado lendas, outros tinham sido completamente esquecidos, mas para chegar a esse ponto, eu tive que voltar no tempo e enquanto voltava esbarrei com a morte de um grande rei e quando vi que ele estava morto, fiquei surpreso ao ver o nome do seu assassino.

É atrás deste assassinato que estamos indo todos os dias, virando as páginas do Chamas do Império, mas a cada dia que passa eu encontro mais e mais personagens e me apaixono por todos eles e os condeno a morte todos os dias, sabendo que eles não vivem mais, pois eu também nasci no futuro e estou caminhando para trás. Ter essa consciência de que cada um desses mitos que passam através de mim para contar sua história já estão mortos é um doce lamento. “A grande canção do mundo é uma ária fúnebre.” Jhomm Krulgar me disse uma vez e só ele, entre todos, sabe o quanto isso está certo. Eu trabalho meu livro cercado de espíritos.

Como disse, construí o Chamas do Império de trás para frente e me tornei uma mistura de Oráculo e Moira, entrelaçando os fios de suas vidas, assistindo a bravura com que caminham para o presente. O presente é a morte. O próprio Deus da Guerra me disse isso e eu coloquei suas palavras nos lábios de Thuron, para que todos aqueles que lessem o livro soubessem. Um presente a qual não podemos devolver.

Tudo o que podemos esperar, no fim, é que alguém cante a nossa história, que nosso nome seja gravado na memória e que nossos votos tenham sido cumpridos, para que os Deuses recebam nosso espírito do outro lado, assim como eu recebi a todos esses personagens, que me acompanham todos esses anos, ignorando o destino que vejo em seus olhos. Talvez seja o mundo que está de trás para frente.

O Chamas do Império nasceu do meu próprio tumulo, quando eu olhei para trás e vi exatamente o que eu tinha me tornado, e é para esse tumulo que eu estou seguindo, ao virar cada página, pesaroso com o fardo da história que não vai ser contada. Pois nem que eu vivesse mil anos, teria toda a tinta, para registrar em letras, todas as histórias que eu vi do outro lado de minha lápide. Por isso eu corro. E cada dia que eu não sigo meu ofício, aquele entranhado em meus ossos, eu sei que outro personagem se perdeu. Outra história já se foi sem registro. Pois não é mais questão de o quê, ou como, é só uma questão de quando. E um dia perdido, já não volta mais.

Antes de mais nada, quero pedir desculpas, por tudo aquilo que ainda não escrevi e que inevitavelmente irá para o tumulo comigo, sem que ninguém mais possa ler.

Comments2
Diggs Posted June 2, 2014 at5:35 pm   Reply

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