Fim do ano é aquela época em que nós inevitavelmente examinamos tudo o que a gente não fez durante o ano todo. Comigo não podia ser diferente, ainda mais em um ano tão improdutivo e horrível, mas de tudo o que eu não consegui fazer, nada me perturba mais do que o segundo volume das Chamas do Império e deve ser exatamente por isso que eu evitei tocar no assunto durante o ano inteiro.
Em 2022 vai fazer dez anos que concluí o Teatro da Ira, meu primeiro romance publicado, e muita coisa aconteceu de lá para cá. Vieram outras ideias, outras histórias, outros projetos, a maior parte deles circundando o universo e os personagens de Chamas do Império. Essas histórias me fizeram enxergar todo o universo de Qaran de maneiras diferentes o que inevitavelmente acabou se refletindo na história principal, o que teve seu lado positivo como o enriquecimento da cultura dhäen, a construção dos ladrões de vidas e todo um desenvolvimento sobre o funcionamento da magia no universo.
Infelizmente isso também trouxe um lado negativo, fazendo o livro ser reescrito de novo e de novo, sem nunca chegar ao seu fim. A versão atual já é a sexta, depois de 17 versões de planejamento. Entre rascunhos, planejamentos e versões, foram cerca de 700 mil palavras escritas, o que dá dimensão da quantidade de trabalho que tive nos últimos tempos. A última versão do livro tem 107 mil palavras e ainda não está acabada, embora esteja muito mais perto do fim do que do seu começo.
Dizem que sete é um número de sorte e é nele que eu me vejo tentado no momento. Penso que não tenho força, ânimo ou motivo para reescrever a história do começo, mas estou considerando uma profunda edição do que já está pronto. Cortar na carne para preservar os ossos. Eu realmente não queria fazer isso. Realmente queria que a história estivesse pronta e quase no fim, que eu pudesse passar para a próxima etapa, a próxima história, a próxima aventura, mas a cada passo que dou nesse caminho, sinto que estou no trajeto errado e isso é agora eu percebo ser isso que tem feito essa caminhada tão dolorosa.
Estou me afogando em um oceano de ideias e personagens; para continuar preciso simplificar as coisas, o que significa renunciar a “amores” aos quais me tornei bastante apegado nos últimos tempos. Personagens que me cativaram no momento em que ganharam o papel e que agora simplesmente estão sem morada. Não é uma tarefa fácil escolher quais personagens eu devo sacrificar sem que a história toda desabe feito um castelo de cartas.
Minha prioridade agora é terminar esse livro. Essa decisão talvez atrapalhe outros projetos em 2022, como a Gazeta Ordinária e as Crônicas de Segunda, que exigem uma dedicação impar, mas é um sacrifício necessário. Estou em alerta vermelho. No meu mundo de sonhos, vou levar cerca de 3 meses para finalizar este livro, o que deixaria espaço para a editora publicar ainda em 2022, mas é o tipo de promessa que eu não posso fazer, pois não depende inteiramente de mim. O que eu posso prometer é que Jhomm Krulgar e Khirk estão de volta, mais uma vez enfiados em problemas e emaranhados nos bastidores de uma guerra que não lhes pertence. Fiquem por perto para saber como isso vai terminar.
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