Notas sobre a magia
On May 29, 2017 | 0 Comments
Nas Montanhas da Loucura
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Escrever nem sempre é um ato de expor ideias, as vezes é só um processo para organizá-las, torná-las manuseáveis. Por exemplo, já faz um tempo que venho pensando na Magia do Império e escrevi sobre esse assunto algumas vezes, mas depois de ler uma entrevista de George R. R. Martin sobre o assunto, ele voltou a martelar nas minhas têmporas.

Em Qaran, magia é a habilidade de manipular a realidade através do élan, que pode ser entendido como a energia vital do mundo. Ela é, sobretudo, uma condição espiritual permitida por pessoas em contato com o mundo invisível. Élan é a energia que vaza do mundo espiritual alimentando o mundo material, alguns dizem que sua origem são os próprios deuses, tornando-nos pulgas sugando seu sangue. Manipulá-la é servir de condutor para o que quer que esteja do outro lado. Toda magia é uma porta aberta com resultados quase imprevisíveis, quanto maior a magia, maior a porta e mais imprevisível ela se torna. Um mago sério vai evitar as portas maiores.

O mundo espiritual é cheio de entidades sem nenhum amor pelos mortais. Criaturas milenares que podem levar um homem a loucura, escravizá-lo ou destruí-lo com um olhar. Algumas pessoas pensam que tais portas deveriam ser permanentemente fechadas. Felizmente, desde o fim da era dos magos, o número de praticantes têm reduzido ano a ano. No Império existem duas forças que controlam os limites da magia. A Academia Imperial de Artes Arcanas e a Ordem das Chaves. A Academia Imperial vêm restringindo o ensinamento místico a alguns poucos selecionados, cerceando o conhecimento de forma a controla-lo. Já a Ordem das Chaves, é quem mantém certas portas trancadas.

Nada disso, porém, fala sobre como a magia é tratada no cenário. Quando eu escrevi as 13 leis narrativas da magia, eu inconscientemente criei um sistema engessado que ao invés de me ajudar na condução da história, apenas burocratizou o uso da magia de forma a evitar as soluções fáceis de enredo. Aqui estou eu escrevendo na tentativa de imaginar uma forma mais fluida de tratar sobre o tema durante a história. A minha questão não é sobre a função mecânica da magia em um universo, mas sim sobre como trabalhar com ela durante a narrativa, tornando sua forma mais orgânica com sua função.

Na minha imaginação, toda magia deve ser: misteriosa, laboriosa, sensorial, extenuante, sutil, perigosa e limitada. Ela deve, preferencialmente, ser uma variação ou uma subversão de uma lei natural, de forma que seu sentido fique claro. A magia também deveria evitar ao máximo se tornar a solução de problemas narrativos, principalmente quando ela é o último recurso dos personagens para o desenvolvimento da trama, é nessas horas que a magia deve falhar, que algo pior deve acontecer, que os personagens vão ter medo. De forma geral, mesmo quando utilizada pelos protagonistas, a magia sempre será uma força antagônica, cobrando um preço, dificultando o enredo, forçando os personagens a encará-la como o recurso mais desesperado, ou mero charlatanismo. Nem tudo aquilo que se diz mágico, realmente o será.

Em outros casos ela será mera questão de fé ou mera sugestão de efeito. Se um mago encantar um guerreiro e ele vencer a batalha, foi magia ou simples coincidência? A magia em sua forma mais sutil causará sempre certa dúvida sobre a sua existência. Chego a pensar sobre se existirá ou não algum personagem arcano com ponto de vista dentro da história. Martin evitou tais personagens o máximo que pode, Tolkien presenteou-nos com Gandalf, que apesar de ser um dos melhores personagens da literatura fantástica é um mago de utilidade duvidosa, sempre limitada as necessidades da narrativa. Talvez o exemplo mais fluído volte a ser Elric o guerreiro albino de Moorcock, o feiticeiro que sempre paga um preço por usar magia. Por mais assustadora que a ideia me pareça, não acho que vou poder evita-la por muito mais tempo. Se não neste volume, certamente no próximo, um personagem místico de grande importância vai aparecer, então não vai demorar para que voltemos a este assunto. Quem sabe, em breve, eu publique um ou dois contos curtos, experimentando a magia do Império.

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