Existe algo de prazeroso e triste em entregar uma história. Semana passada, aparei as arestas e dei polimento no meu próximo livro. O Gigante da Guerra, que será lançado pela Editora Crown no segundo semestre de 2016. Sempre que termino um trabalho sinto essa necessidade de falar sobre ele, como falar de um filho que acabou de sair de casa.
O Gigante não é um desconhecido dos leitores antigos, ele já apareceu outras vezes: primeiro como conto, depois como um desabafo, por fim como um desafio. Quando me inscrevi no NaNoWriMo 2015, eu não tinha ideia de que essa história ganharia toda essa importância. Depois de alguns anos trabalhando em aventuras épicas e distopias científicas, eu queria escrever algo diferente, que de alguma forma dialogasse com uma verdade maior. O Gigante era só uma vontade naquele momento. Uma história que me parecia simples o suficiente para ser contada nas 50 mil palavras que o NaNoWriMo exigia que fossem escritas em um mês. Mal a fase do desafio terminou, o Gigante se tornou uma surpresa ao ser acolhido no catálogo da Editora Crown, que se tornou oficialmente seu lar, onde tem sido tratado com bastante carinho.
O Gigante da Guerra é uma história sem qualquer conexão com o Teatro da Ira, mesmo que ele se passe o mesmo cenário.
O Teatro da Ira acontece no ano de 1886 d.K., quando os reinos do sul do Império voltam a questionar as decisões de do Imperador Arteen com relação a guerra contra Whyndur e a libertação dos dhäeni. É uma história política, com boa dose de aventura.
O Gigante da Guerra se passa vinte anos antes dessa história, ao norte do Mar de Jor, perto de onde houve a batalha de Lenki, uma região agrícola praticamente esquecida pelas políticas do Império. Uma história sobre os sacrifícios e transformações causados pelo medo e pela perda. Onde pessoas comuns tentam sobreviver as pequenas e grandes crueldades que elas mesmos são capazes de causar, a si e aos outros.
O Gigante da Guerra poderia ter sido contado em qualquer cenário que eu quisesse. Durante as Guerras Napoleônicas, durante a Guerra Civil Americana, nas bordas da Guerra do Paraguai ou na Guerra dos Canudos, o único motivo de eu ter escolhido a Guerra das Almas como cenário, foi uma questão de prazo. Para terminar um romance em 30 dias, você tem que saber do que está falando e eu não tinha tempo de fazer uma pesquisa razoável sobre nenhum outro cenário.
São duas histórias virtualmente independentes, mas que, dividindo um mesmo universo, acabam tendo sutis referencias entre si. O mundo é povoado pelas mesmas raças, têm as mesmas tradições, seguem a mesma religião, respeitam as mesmas autoridades, mas enquanto no Teatro da Ira o foco do cenário talvez seja a questão política em que se encontra o Império, no Gigante da Guerra, o foco do cenário é a tradição do homem do campo. Ironicamente o Gigante da Guerra é uma história sobre as miudezas, sobre a gente que morre sem que ninguém se dê conta. Em diversos níveis, é uma das histórias mais difíceis que eu já escrevi e que eu não sei bem como explicar, mas talvez essa não seja a minha tarefa. Talvez seja a tarefa de vocês.
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