Não bata palmas para o maluco dançar
On January 30, 2015 | 0 Comments
THE HOBBIT: AN UNEXPECTED JOURNEY

Existe algo de mágico e maldito na internet, algo desvela como um espelho da verdade coisas que nós não gostaríamos de saber. Os últimos anos têm sido bastante difíceis para os fãs de qualquer celebridade. É difícil ser fã de alguém que têm os pecados expostos a torto e a direito. Foi o que aconteceu com Woody Allen, Bill Cosby, Marion Zimmer Bradley, isso só para citar os pecados que além de imorais são contra-lei. Como leitor e fã, tenho achado difícil me declarar a favor de qualquer pessoa, como se ao afirmar meu amor pela obra de Marion Zimmer Bradley de alguma forma parecesse que eu aprovo os abusos que ela supostamente cometeu contra a filha. Não é bem assim. Sei que precisamos separar a pessoa do artista e avalia-lo apenas por sua obra, mas não deixa de ser decepcionante imaginar que alguém capaz de algo tão maravilhoso quanto aquele determinado livro seja capaz dos mais sombrios atos.

São casos extremos. O exemplo, entretanto, funciona para os pequenos casos do dia-a-dia. Tento acompanhar o mercado nacional através dos perfis de outros autores. É sempre interessante ver como eles reagem as notícias, como divulgam seus livros, no que estão trabalhando agora no que pensam em trabalhar em breve, o que estão assistindo, lendo, etc. Uma forma de aprender é acompanhar o aprendizado dos outros e eu avancei muito observando os passos alheios. É uma pena, porém, que ao acompanhar esses passos, acabamos esbarrando com o lado sombrio do espelho. Os preconceitos, as piadas, os desrespeitos e a forma desonrosa com que outros são tratados.

Tenho tido esses pensamentos a algum tempo, sem lidar com nenhum caso em específico, mas penso que em tempos de democratização das informações, devemos manter algumas opiniões para nós mesmos, sobretudo as que desrespeitam algum grupo social ou político. É decepcionante quando um grande autor deixa escapar seus preconceitos em comentários completamente desnecessários, sem falar que do ponto de vista comercial é bastante inconveniente você ofender parte do que poderia ser o seu público.

Eu, como boa parte dos autores, tenho opiniões bastante fortes. Faço o possível para me manter atualizado e ter um posicionamento sobre tudo o que vejo. Vez por outra me pego emaranhado em alguma batalha verbal com alguém pelo que eu acho correto. Tento não ser desrespeitoso, tento me manter coerente e não me importo em mudar de opinião se alguém me convencer do contrário. Inevitavelmente, porém, depois disso sinto que fui além do necessário e prometo não cometer o mesmo erro novamente. Tenho tido sucesso nos últimos tempos, evitando os assuntos mais espinhosos e os debatedores menos coerentes, mas a minha abstinência tornou mais evidente ainda como outros autores se posicionam na web. A ressaca moral que vêm depois de cada discussão desnecessária se transformou, lentamente, em uma profunda vergonha alheia e, inevitavelmente, em uma série de unfollows pelos mais variados motivos. Cheguei a conclusão de que por mais que eu adore a obra de alguns autores, não preciso me expor aos seus preconceitos e ofensas.

Não sei bem o que eu planejava com esse artigo. Talvez lançar um pouco de luz para os colegas de escrita sobre o mal que eles estão causando a si mesmos, arriscando perder seguidores e mesmo leitores, em troca de ter razão em uma discussão. Talvez explicar ao leitor/seguidor que ele tem nas mãos o maior poder possível sobre o artista: o silêncio, o unfollow, o vazio. Para manter a sanidade na internet todos conhecem a regra máxima: Não alimente os trolls. Trolls se alimentam de atenção, então não de o que eles querem. No mundo literário as regras são as mesmas. Mesmo que o troll tenha noites de autógrafo, não bata palmas para o maluco dançar.

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