A pergunta original que circulou em 2008 na comunidade do TOR.com não era exatamente essa. O autor, um norte americano, e seus leitores, questionavam sobre o estranho silêncio dos escritores de ficção científica latino americanos e sobre a presença quase monolítica da literatura americana ou européia nas livrarias de seus países. Nele, Brian Slattery questiona:
“Onde estão os autores de ficção científica não-americanos e não-europeus? Porquê eles não são tão conhecidos como seus pares americanos e europeus?” [pausa para os risos]
Bom, é uma pena que a situação do autor brasileiro não tenha chegado ao conhecimento dos nossos colegas internacionais, mas Brian Slattery foi além no seu questionamento e encontrou parte das respostas que ele precisava para dar ao seu público em uma antologia chamada: “Cosmos Latinos: An Anthology of Science Fiction from Latin America and Spain“:
“A maioria das livrarias da América Latina e Espanha, que têm uma sessão de Ficção Científica, possuem em sua maioria traduções para o português e para o espanhol dos clássicos europeus e norte-americanos. Autores regionais ainda não são levados a sério pelos editores, que vêem pouca rentabilidade na comercialização da Ficção Científica nacional, tanto porquê não há demanda suficiente entre o público local, quanto porque a familiaridade da maioria das pessoas com ficção científica veio por meio dos filmes hollywoodianos, e por extensão, todo sci-fi tido como bom, deve ser importado… Barreiras culturais e econômicas significativas ainda precisam ser superadas para que [Sci-Fi Espanhola e Latino-Americana] possam desfrutar de um maior número de leitores que eles merecem, no país e no exterior.”
Nós que vivemos o mercado nacional já conhecemos bem esse roteiro. Mesmo entre os autores nacionais de sci-fi e fantasia é difícil encontrar aqueles que realmente apreciam autores nacionais de sci-fi e fantasia. O nicho se perde dentro do próprio nicho. Acho justo dizer, porém, que graças a uma mudança de mercado nos últimos anos, esse cenário vêm lentamente se alterando. As pequenas editoras como Estronho, Draco e outras, se especializaram e ganharam espaço alimentando aquela parcela dos leitores que fizeram a mesma pergunta de Brian Slattery: “Onde estão os escritores brasileiros de fantasia e ficção científica?” O mero fato de uma pergunta como essa ter sido feita em um site americano, mostra que estamos no caminho certo ao insistir na nossa produção. Slattery continua em sua divagação:
“Os editores vão argumentar que existe uma forte tradição nacional de ficção científica na Espanha e na América Latina, e que em sua descrição, ela tem função parecida com a tradição americana. Mesmo assim, a economia mostra-se contraria a ficção científica latino americana, marginalizando-a em nível macro-econômico: ‘textos da Argentina, Cuba, Brasil, México e Espanha compõem a maior parte desta antologia,’ os editores dizem que, em parte porque existem energéticas comunidades de escritores e leitores nesses países, mas também porque as ‘economias relativamente robustas destes … países … lhes permitiu manter vivas as indústrias editoriais.‘
Em outras palavras, levando em consideração o outro lado do argumento dos editores, não ouvimos falar muito de escritores de ficção científica de países mais pobres como El-Salvador, Nicaraguá, Bolívia, em parte porque não há editoras de ficção científica lá; ou se existem, eles não têm cacife para espalhar os nomes de seus autores para além das próprias fronteiras.”
Voltando ao cenário brasileiro, ainda são poucos os nomes de autores que conseguiram escapar das fronteiras do país, mas aqueles que o fizeram encontraram do outro lado um cenário muito mais amistoso do que o visto em território nacional, o que me faz pensar que o preconceito contra o autor brasileiro [e pelo visto, contra o autor latino-americano] é uma chaga inteiramente nacional, um problema a ser enfrentado diariamente não só escrevendo ficção científica e fantasia brasileira, mas também consumindo-a, resenhando-a e mostrando que se não chegamos tão longe em questões de mercado isso não se deve em nada no quesito qualidade.
Brian Slattery lamenta a ausência de escritores latino-americanos de ficção científica no mercado internacional e termina seu artigo com uma questão: “Existem realmente barreiras culturais para o público europeu e norte-americano desfrutar da ficção científica de outras partes do mundo?”
Eu não tenho essa resposta. Tudo o que eu posso dizer é: Estamos aqui Brian. Produzindo cada dia mais, cada dia melhor e procurando outras formas de mudar a nossa realidade. Enquanto isso, ficamos imensamente gratos por vocês estranharem a nossa ausência nas suas livrarias. Obrigado.
Artigo original: Where’s the Latin American Science Fiction?
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