Pegando carona em um post da Editora Lumos, me vi pensando novamente naquele instante em que precisamos nos despedir de um personagem querido, quando viramos a página incrédulos, na esperança de termos lido errado, procurando pela confirmação de que aquela pessoa com quem convivemos ainda esteja entre nós.
Sou particularmente cruel com meus personagens. Não me basta o controle quase absoluto sobre suas vidas e a perdição de suas almas, eu exijo deles suas lágrimas e seu sangue, muitas vezes coloco sua sanidade a prova, dando em troca nada além de um naco de pão seco e a promessa rarefeita de se tornar uma lenda. Aqueles que me lêem a mais tempo sabem que ninguém está seguro.
Disse uma vez que Chamas do Império nasceu de trás para frente. Como quase tudo o que eu escrevo, o final é mais importante que o começo e não existe final mais derradeiro do que a morte. Todos os meus personagens nascem mortos. Alguns morrem em batalha, com a espada na mão, ou envenenados sobre uma mesa de jantar. Outros morrem em suas camas, com uma vida de remorsos nos lábios, sozinhos ou cercados de entes queridos. Algumas mortes fazem parte da história, outras são simplesmente deixadas de lado. Não existe nenhum personagem no palco cuja morte não tenha sido longa e dolorosamente construída e cujo dia se aproxima a cada capítulo.
Chamas do Império é a história de uma guerra. Seria desastroso contar uma história deste tipo sem que houvessem mortes a se lamentar. Isso não quer dizer, porém, que as mortes também não me afetem como autor. As vezes é bastante difícil se despedir de alguns personagens, chega a ser cruel conduzi-los em suas vitórias, conhecendo suas derrotas, mas eu não conheço outro jeito de contar essa história.
Em minha defesa só posso dizer que eu jamais matei um personagem pelo qual eu não fosse apaixonado. Talvez isso só torne a coisa um pouco pior, mas essa é toda a imortalidade que eu posso lhes prometer. Quando seus ossos forem devorados pelas fogueiras, suas cinzas serão esculpidas nos ídolos que eu levarei por toda minha vida. Se meus leitores também levarem consigo estes ídolos, suas mortes não terão sido em vão.
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