Vocês estão carecas de saber que eu sou fã do Michael Moorcock, tanto pela obra, mas principalmente pelo que ele representou para a literatura fantástica em um determinado momento da sua história. Foi com grande alegria que eu ouvi o Fábio Fernandes, durante sua Oficina de Preparação de Roteiro, cita-lo com um entusiasmo ainda maior e sob sua recomendação, fui atrás deste artigo que mais uma vez tomei a liberdade de traduzir. Como sempre, qualquer erro e imprecisão é culpa inteiramente minha. Primeiro uma breve introdução:
Michael Moorcock é um dos mais influentes escritores ingleses de seu tempo. A maior parte da sua carreira é especializada em fantasia e ficção cientifica, e apesar de alguns dos seus romances terem sido considerado alta literatura, ele foi um firme expoente do gênero Espada e Feitiçaria, particularmente nos anos sessenta e setenta.
Ele comenta com freqüência sobre o oficio de escrever, mas uma de suas mais interessantes e únicas técnicas é um método para escrever um livro em três dias. Ele está falando de Espada e Feitiçaria, e os livros em questão tipicamente tem algo em torno de 60 mil palavras, mas mesmo assim, existe muito a ser dito sobre seu método. Apesar da média geral, o poder de seu trabalho é enorme, e seu personagem mais conhecido, Elric, é um dos grandes destaques da fantasia.
Aqui está sua técnica para escrever um livro em três dias”
Primeiro de tudo, é importante ter tudo planejado. Mesmo que você vá escrever o coisa em três dias, você primeiro precisa de um dia ou dois para se organizar. Se não estiver tudo organizado, você vai falhar.
A estrutura básica do enredo é o Falcão Maltes (ou o Cálice Sagrado, um modelo de busca, basicamente). No Falcão Maltes, um grupo de pessoas está atrás da mesma coisa, o Pássaro Negro. Na Morte de Arthur, novamente, um grupo de pessoas estão em busca da mesma coisa, o Cálice Sagrado. É a mesma fórmula para faroestes, também. Todo mundo está atrás da mesma coisa. O ouro de Eldorado, tanto faz.
A fórmula depende do sentimento do ser humano lutando contra uma força sobre-humana – política, grandes corporações, mal sobrenatural, etc. O herói é falho, e não quer se misturar com essas forças. Ele está prestes a ir embora quando algo o agarra e acaba envolvendo-o em um nível pessoal.
Você precisa fazer uma lista de coisas que você vai usar.
Prepare um evento a cada 4 páginas.
Faça uma lista de imagens coerentes. Então você pensa, certo, Stormbringer: espadas, escudos, chifres, e mais.
Prepare a estrutura completa da sua história. Não um enredo, exatamente, mas a estrutura onde as exigências estão claras. Saiba quais os problemas de narrativa você precisa resolver a cada ponto da história. Escreva soluções a fogo brando, através da inspiração: verdade, isso pode acontecer olhando ao redor da sala, vendo objetos comuns, e transformando-os em algo no que você precisa. Um espelho comum pode se tornar um espelho que absorve as almas dos condenados.
Prepare uma lista de imagens puramente fantásticas, deliberadamente paradoxais, que se encaixam no tipo de coisa que você está escrevendo. “A cidade das estátuas que gritam” e coisas do tipo. Mantenha uma lista delas de modo a ter a mão quando você precisar. Mais uma vez, eles precisam ter coerência e a ressonância certa umas com as outras.
A imagem vem antes da ação, porquê a ação na verdade não tem importância. Um objeto a ser alcançado – com tempo limitado para obte-lo – é facilmente desenvolvido, uma vez que você trabalha a estrutura para fora.
O tempo é um elemento importante em qualquer história de aventura e ação. Na verdade, você começa a ação e a aventura fora do elemento de tempo. É uma fórmula clássica: “Nós só temos seis dias para salvar o mundo!” Imediatamente você colocou o leitor dentro da estrutura: já apenas seis dias, em seguida cinco, em seguida quatro e, finalmente, na fórmula clássica de qualquer maneira, há apenas 26 segundos para salvar o mundo! Será que eles vão chegar a tempo?
O motivo pelo qual você planeja tudo de antemão é para que quanto você chegar a um obstáculo, em um momento de desespero, você realmente tenha algo lá em sua mesa que lhe diz o que fazer.
Uma vez que você começou, você deve seguir adiante. Você não pode se dar ao luxo de ter nada para dete-lo. Desligue o telefone e a internet, tranque todos para fora de casa.
Você começa com um mistério. Cada vez que você revela um pouco dele, você tem que fazer outra coisa para aumenta-lo. Uma boa história de detetive terá a mesma coisa. – Meu Deus, é por isso que o mordomo de Lady Carruthers, Jenkins, estava olhando o buraco da fechadura naquela noite. Mas onde foi a Sra. Jenkins?
Em suas listas, nas imagens e assim por diante, haverá mistérios que você não explicou a si mesmo. O ponto é, você colocou no mistério, não importa o que é. Pode ser a grande verdade que você vai revelar no final do livro. Você apenas pensa: “Eu vou colocar isso aqui porque eu poderia precisar dele mais tarde”. Você não pode gastar seu tempo com uma porção de explicações chatas sobre algo que você não também não tem idéia do que vai ser.
Divida suas 60 mil palavras em sessões de 15 mil palavras. Divida cada sessão em seis capítulos. Você pode mudar essa proporção para mais ou para menos, se você quiser, é claro, mas você vai precisar de mais dias – e mais estamina – para livros mais longos e deve manter os capítulos em 2,5 mil palavras no máximo. Na primeira sessão, o herói vai dizer: “Não há como salvar o mundo em seis dias a não ser que eu comece por…” obter o primeiro objeto de poder, ou chegar ao lugar místico, ou encontrar o companheiro certo, ou o que seja. Isso lhe dá uma meta imediata, e um elemento de tempo imediato, bem como uma demanda de tempo superior. Com cada seção dividida em seis capítulos, cada capítulo deve conter algo que irá mover a ação para a frente e contribuir para esse objetivo imediato.
Muitas vezes um capítulo é algo como: ataque dos bandidos – derrota dos bandidos. Nada particularmente complexo, mas é outra maneira de conseguir o reconhecimento: ao tornar a estrutura de um capítulo uma miniatura da estrutura geral do livro, então tudo parece coerente. Quanto mais você lidar com a incoerência e o caos – ou seja, com a velocidade – mais você precisa apoiar tudo sobre uma lógica simples e formas básicas que vão manter tudo conexo. Caso contrário, a coisa só começa a se espalhar em uma confusão abstrata.
Assim, você não deve ter nenhum encontro sem pelo menos uma informação relevante.De forma mais simples: Elric tem uma luta e mata alguém, mas quando ele morre, ele diz que sequestrou sua esposa. Novamente, é uma questão de economia. tudo tem que ter uma função narrativa.
Use a Lester Dent Master Plot Formula. [veja no final do artigo]. Você nunca deve ter uma revelação de algo que não estava estabelecido; assim você não poderia desmascarar um assassino que não era um personagem estabelecido já. Todos os seus personagens principais têm de estar na primeira parte. Todos os seus temas principais e tudo o mais tem que ser estabelecido na primeira parte, desenvolvida na segunda e terceira e resolvido na última parte.
Há sempre um ajudante para ter as reações que o herói não tem permissão de ter: ficar assustado; para adicionar uma nota mais leve; para compensar os discursos mórbidos do herói, e assim por diante. O herói tem que suprir a dinâmica narrativa e, portanto, não pode ter qualquer senso comum. Qualquer um de nós, nessas circunstâncias, diria: “O quê? Dragões demônios? Você tem que estar brincando!” O herói precisa ser conduzido e quando as pessoas são conduzidas, o senso comum desaparece. Você não quer que seu leitor faça objeções do senso comum, você quer que eles sigam com a unidade; mas você tem que ter alguém ao redor que vai agir como uma espécie de coro.
Em caso de dúvida, desça para um personagem menor. Então, quando você chegar a um impasse, e você não puder mover mais a ação do seu personagem principal, mude para o ponto de vista de um personagem secundário, o que permitirá que você mantenha a narrativa em movimento, e lhe dará tempo para preparar algo.
diegoguerraDiego Guerra é formado em Produção Editorial pela Anhembi Morumbi e em roteiro pela Academia Internacional de Cinema. Trabalha como designer e é fã de literatura fantástica e romances históricos. Passou os últimos quinze anos escondendo suas obras nas gavetas, mas resolveu que já estava pronto para contar suas aventuras. Autor do Teatro da Ira, A Lenda do Mastim Demônio, O Gigante da Guerra, além de diversos contos para antologias e artigos sobre literatura fantástica e dicas de escrita criativahttp://diggs.com.br