No artigo anterior eu falei sobre como uma crítica de uma autora me ajudou a enxergar meu trabalho de outra forma e de como usei isso para evoluí-lo ao que eu considero uma versão melhor de mim mesmo. Lidar com as críticas muitas vezes não é prazeroso, mas é extremamente necessário ao autor que tenta se levar a sério no mercado editorial. Que escrever é um processo penoso, todos mundo já deve saber. Leva tempo, te isola da família e dos amigos, te entope de café, traz úlceras e pesadelos. Que é uma arte pouco valorizada, só a conta bancaria dos chamados best sellers pode provar. Mais fácil conhecer alguém que ganhou na mega-sena do que um autor que ficou rico escrevendo. Não é por isso que a gente faz o que faz.
Escrever é um processo individual. Uma mania quase compulsiva. Quando me vejo incapaz de escrever, é como se eu sentisse uma coceira no nariz e estivesse usando capacete espacial. Acho que todo mundo que escreve vai continuar escrevendo, independente de dinheiro, reconhecimento ou qualquer outra coisa, mas o mesmo não precisa ser dito sobre a publicação do seu livro. Publicar uma história, meus caros amigos, é pura vaidade. É acreditar que existe alguma coisa em si que deve ser compartilhada com o mundo.
Nada contra, também sou vítima deste pecado. Dois livros publicados, terceiro no prelo, quarto em processo e outros tantos abandonados pelo caminho, não me deixam ser hipócrita a ponto de dizer que o faço apenas pela arte. Sim, quero ser lido, quero ser desafiado e, com sorte, quero ser entendido para talvez um dia ser explicado a mim mesmo. Escrever também tem algo de psicanalise.
A questão, aqui não é se devemos escrever ou se devemos publicar, mas sim que tipo de poder nós temos pela obra no momento em que ela ganha o mundo. Tenho acompanhado com assombro manifestações de autores de todos as idades e gêneros (mas sobretudo jovens autores com as primeiras obras no mercado), reclamando sobre as críticas que recebem. Vejo comentários sobre proteger a literatura nacional a todo custo, sobre valorizar o que é brasileiro, sobre dar apoio ao iniciante e repercussões assustadoras como perseguição a quem dá três estrelas de avaliação, boicote a sites que falam mal da sua obra ou autores que criam listas de inimizades para boicotes futuros. Algumas histórias são dignas de enredos de terror, com autores perseguindo virtual e fisicamente seus críticos, ameaçando suas famílias, fazendo magia para sua saúde ou plantando boatos criminosos a respeito da reputação do crítico e juro, não cometi nenhum exagero nessas histórias.
Precisamos parar de tratar a literatura nacional como se fosse café com leite. Essa criança frágil que quer brincar no parquinho com os mais velhos, mas cujas regras não se aplicam. Precisamos parar de dizer que a literatura não vai aguentar o tranco de uma avaliação ruim e que um crítico quer destruir a literatura nacional. Será que mais de 500 anos de história e toda uma longa tradição herdada do além mar é tão frágil ao ponto de ser destruída por alguém que te diz que sua história é ruim? Será que não estamos superestimando o poder que um crítico tem sobre a obra? E, em última hipótese, não estamos superestimando a nossa importância dentro da história da literatura? A literatura brasileira não vai acabar só porquê meu livro ganhou três estrelas e alguém não gostou da minha capa e, lamento informa-lo, ela não vai notar se o seu livro foi ou não foi publicado. Ela vai seguir seu fluxo na história, praticamente inabalada.
Sempre disse e vou repetir por toda a minha vida que a primeira coisa que qualquer profissional que se leve a sério precisa aprender é ouvir críticas, mesmos as mais ácidas e injustas. Se ao ouvir uma crítica massacrante você sente o ímpeto de desistir, faça um favor a si mesmo e desista. Não estou dizendo isso para puni-lo, mas para salvá-lo de uma vida de sofrimento. Procure alguma coisa que te faça feliz independente das críticas que você vá receber. Você terá mais paz de espírito.
Agora se você quiser ser levado a sério, se quiser aprender com seus próprios erros, se quiser continuar fazendo o que você faz sabendo que a cada porrada você se levanta mais forte, aprenda a lidar com as críticas. Aceite que seu trabalho não é perfeito e tente entender onde e como você pode melhorar. Porquê mesmo o troll de internet que diz que seu livro é tão ruim que causa cegueira pode estar sendo mais sincero do que o seu amigo que sabe o quanto você investiu de tempo naquele projeto e como ficará magoado se não for elogiado. Publicar seu livro é sair da sua bolha de segurança com o espírito pronto para encarar os próprios demônios e os muitos defeitos.
Se depois de ler tudo isso você ainda acredita que deve defender a literatura nacional com um AR-15 na mão, meu último conselho é: fique em casa onde é seguro. Dentro de uma gaveta, ninguém jamais irá criticar o seu livro.
E para quem quiser ler e criticar meu livro eles estão disponíveis nas grandes livrarias e podem ser encontrados também na Amazon aqui e aqui, eu ficarei feliz em ouvir o que vocês mais odiaram em cada um deles.
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