Existe um vazio se espalhando pelas minhas veias. Uma água fria que se infiltra sob minha pele, tomando conta da minha carne para afogar as coisas que eu já não sei mais como dizer. Assisti ele crescendo do sofá da minha sala, em HD, com som surround digital, um balde de pipoca entre as pernas e os dedos deslizando a tela elétrica do celular, em seus milhões de desencontros. O fim da humanidade é um cardápio de carne, onde desfilamos nossos corpos para serem sistematicamente desprezados. Escravos do tédio, fingindo iniciativa enquanto esperamos em fila como bois no abate, uma rejeição após a outra.
Morro um pouco a cada dia, mas nunca em velocidade média. Morro lentamente, como quem não quer a morte, resistindo a esperança de que as coisas façam sentido. No fim, nada faz sentido. É triste olhar para frente e imaginar que você deixou para trás os melhores dias da sua vida. É cedo para contar o tempo, mas é tarde para lamentar os tropeços. A água fria que corre em minhas veias, não tem escapatória exceto a uretra e o pinico enquanto eu tento aquece-la com doses cavalares de álcool e pimenta. Tenho uma língua burra que não acompanha os pensamentos, fico calado para não tropeçar nas ideias. Sou um amontoado sem graça de neuroses que matam de tédio qualquer psicólogo. Semi-digerido e insosso, como o sol da manhã de inverno.
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