Se o amanhã estivesse tão ali que de onde estamos pudéssemos ver suas margens, mesmo que estivessem longe as montanhas do futuro. Se fosse um aroma que nos atiçasse a fome, com idéias do que ainda esta no forno. Se o amanhã fosse de fato uma promessa que se realizasse, um desejo que tomasse forma, mas não. O hoje é a ponte entre duas terras cobertas pela névoa. De um lado, vaga lembrança, do outro tola promessa. O amanhã é uma ilusão que se esfarela ao tornar-se hoje, como uma fruta cuja doçura ouvimos falar, mas cuja polpa nos amarga a boca. O amanhã é o poço negro que se abre para um fundo que talvez esteja seco. Está aquém mesmo do menor dos seus sonhos. O amanhã é infinito, se estende ininterruptamente sempre ao alcance dos dedos, como a ilha que se afasta do barco, nos assombrando com todas as possibilidades que permanecerão em aberto naquele único dia que é certo. Aquele em que o amanhã não vêm, em que o passo vacila, a ponte ruí, o forno se apaga e descansamos sem pressa no fundo arenoso do poço, resvalando com os dedos o amanhã e o agora, para transformá-los naquilo que chamamos eternidade.
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