Quem acompanha meu trabalho de perto (presumindo que ainda existam algumas pessoas que o fazem, mas não estão cientes dos últimos fatos), sabe o grau de dedicação que eu coloco em cada trabalho. Sou daquele tipo de pessoa cujo trabalho precisa ser arrancado dos dedos com um alicate, ou me debruçarei sobre ele eternamente e sim, isso costuma me prejudicar mais do que me ajudar.
O Teatro da Ira caiu por um tempo nessa armadilha. O trabalho de edição foi longo e bastante complexo, um livro que nasceu com duzentas e tantas páginas saltou para mais de quatrocentas, capítulos caíram, surgiram, foram reescritos e aprimorados. Tamanha reestruturação pediu uma revisão atenciosa e eu tive a sorte de contar com alguns profissionais excelentes que me ajudaram nessa etapa. Sou um autor de sorte em poder contar com uma editora empenhada e, mais ainda, com amigos dedicados que ofereceram seus esforços, seu tempo e seus conselhos, para tornar tudo o mais perfeito possível. Sou mais do que grato à Olivia Maia, Elza Keiko, Martha Lopes e Mariana Sgambato, que pacientemente me garantiram de que tudo acabaria bem.
Claro que tudo isso levou tempo. Embora tenhamos trabalhado o mais rápido possível, a qualidade sempre foi a nossa primeira diretriz e adiamos com bastante consciência aquilo que podíamos deixar melhor. Infelizmente nem todos os atrasos foram tão conscientes. Infelizmente, não tenho apenas agradecimentos para fazer sobre as pessoas envolvidas nesse livro.
Em determinado momento do processo Erick Sama e eu tomamos a decisão e procurar um ilustrador para a capa do Teatro da Ira. A capa que tínhamos era excelente e havia sido magistralmente criada por Márcio Zechetto, um grande amigo e diretor de arte, mas existia uma preocupação sobre os desdobramentos futuros que ela tinha dificuldade em atender, assim começamos o processo de escolha para um novo ilustrador para a capa. Infelizmente – e assumo toda a responsabilidade sobre isso – eu cometi um erro nessa escolha. O ilustrador que contratarei para o trabalho era dono de um traço magistral e, quando entrei em contato, demostrou um enorme interesse em trabalhar no Chamas do Império. Confesso que fiquei seduzido em ver alguém de tanto talento tão disposto a abraçar esse universo que eu estava criando. Tomei uma decisão com o coração, apesar dos conselhos do editor a esse respeito e torci para que tudo desse certo.
O universo editorial também tem seus personagens dúbios. Com o livro pronto e revisado, o que restava era a capa e justamente ela foi o que mais se atrasou. O ilustrador responsável (ou nessa altura poderia dizer irresponsável) tão logo recebeu os 50% de sinal passou a me evitar, mandando notícias muito raramente, sempre com promessas de que na semana que vêm o trabalho estaria pronto, na semana que vêm ele enviaria o rascunho, na semana que vêm enviaria as cores, sem o menor cuidado de cumprir a promessa anterior antes de fazer novas promessas. Semanas se tornaram meses e os meses se empilharam, até que o ilustrador simplesmente não respondia mais nenhum contato. Sendo justo ele chegou mesmo a enviar uma mancha da capa e um rascunho inacabado, mas foi isso. Nenhuma satisfação, nenhuma solução, nenhum posicionamento. Nada. Aguardei mais uns dias até tomar coragem de falar com o editor sobre o problema, cheguei a cotar com outros ilustradores uma nova capa, mas o projeto subitamente se tornou inviável diante do prejuízo financeiro do ilustrador desaparecido.
Quando finalmente tomei coragem de dizer ao editor o tamanho do meu fracasso, ele tinha razão em explodir. Nessa altura nosso contrato de edição já estava vencido e meu maior medo era de que ele desistisse do projeto como um todo. Felizmente o Erick soube direcionar a sua raiva e assumiu as rédeas quando eu realmente já não tinha mais saúde mental para lidar com isso. Juntos tomamos a decisão de não esperar mais pelo ilustrador, não fazia o menor sentido acreditar em promessas que não se cumpririam. O Erick se ofereceu para cuidar da capa dali em diante e eu fiquei feliz em não precisar lidar mais com alguém sem o mínimo de profissionalismo.
Claro que existe toda a frustração do processo e toda a questão financeira e legal que ainda não se resolveu, mas pelo menos não havia mais o risco do livro não ser publicado. Uma certeza que me deu uma segunda vida e um segundo ânimo.
A maior lição que eu tirei dessa história toda é que o verdadeiro trabalho de um autor começa quando o livro acaba. É ai que termina toda a diversão criativa e se inicia todo o processo de realização do livro, que as vezes é instigante, outras vezes chata e burocrática. A segunda lição que eu tive foi não acreditar em promessas e não adiar retiradas. Se um profissional não sabe cumprir com a sua palavra, ele não é profissional. É só uma pessoa talentosa que não está pronta para o mercado.
Achei que depois de tanto tempo sem notícias, vocês gostariam de saber em que pé estamos. Sei que a demora tem sido interminável, mas agora falta apenas um instante. Passado todo o susto, eu já posso voltar a me concentrar nos próximos “capítulos” dessa jornada, já temos duas noveletas prontas e toda e um primeiro rascunho da estrutura do segundo romance. Passado toda a aflição, Jhomm Krulgar pode voltar a matar. Em breve.
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