Eu acordo todos os dias duas horas mais cedo para poder me sentar diante do computador e fazer o que eu gosto. Nos dias de frio, como hoje, isso parece especialmente penoso, mas não tão penoso quanto deixar de fazê-lo.
Não chega bem a ser uma escolha, é praticamente uma compulsão, como se minha vontade não fosse decisória. Os anos mais infelizes da minha vida, passei em um silêncio imposto, a compulsão permanecia no mesmo lugar, com a mesma intensidade, mas não havia vazão para o fluxo de idéias. É difícil explicar a sensação.
Depois que publiquei o terceiro capítulo do Teatro da Ira, ainda não havia me livrado da frustração que foi a baixa leitura do segundo capítulo. Então percebi que escrever era uma atividade que exigia sobre tudo um alto índice de egocentrismo, como se as coisas que você despejava tão incoerentemente no papel fosse tão dignas de nota que o mundo inteiro fosse parar para “ouvir a palavra”. Reconhecer isso foi também entender que não havia nenhuma tabua de pedra descendo ao pé da montanha. Escrever seria escrever e só.
Então surgiu outra questão: porquê dedicar tanto tempo a este blog? Se eu podia escrever, apenas por escrever, o que me fazia entrar na sala vazia e discursar para as poltronas? Entendi então que escrever tinha também um bom tanto de esquizofrenia. Ouvimos vozes e falamos com o nada e reconhecer isso foi também entender que é tudo uma grande mentira que estamos contato uns aos outros.
Todo mundo já leu um livro e não teve com quem conversar sobre ele. Eu tenho esse livro na minha cabeça e eu só vou conseguir conversar sobre ele se puder tirá-lo de lá. Acho que ai está a raiz de toda a loucura que um escritor enfrenta. Se pudermos materializar esta história de alguma forma, damos voz a loucura interna. Começamos a lidar com o que de verdade nem existia. Talvez seja esse o motivo disso tudo.
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