As vezes ouço alguns comentários sobre de onde teria surgido a Inspiração para Chamas do Império. Comecei a trabalhar no universo de Chamas do Império em 1995, um pouco insatisfeito com a falta de ação de alguns livros de fantasia. Naquela época eu imaginava uma mistura de Tolkien com Howard, com personagens meio sujos que pudessem falar palavrão e fazer sexo nas histórias, sim eu era um adolescente e tudo no fim precisava ter algo a ver com sexo.
Gastei bastante tempo trabalhando na história de dois personagens que vagavam por uma terra sem lei, que um dia havia sido governada por um poderoso Império. Embora essa história ainda fosse me atormentar por alguns anos, ela logo se tornou uma desculpa para falar desse universo fantástico, onde o mal parecia muito a flor da pele e o bem era menos do que uma sugestão na mente de algumas pessoas que viviam sob a lenda de tempos melhores.
A medida que o universo crescia, porém, foi ficando claro que não era aquela a história que interessava ser contada. Foi só em 2000 (ou 2001, o ano não me parece certo) que eu conheci Bernard Cornwell e deixei as Crônicas de Arthur me enfiar em uma depressão profunda, do tipo que só os melhores livros podem fazer com os piores autores. Parecia impossÃvel fazer algo tão envolvente quando aquilo e apesar de eu conseguir entender que estava focando minha história no momento errado da cronologia do meu universo, pareceu simplesmente desnecessário escrever qualquer coisa a mais.
Bernard Cornwell havia matado minhas esperanças de terminar algo, já que nada pareceria bom o suficiente. Acompanhei todos os livros de Cornwell pubicados no Brasil, até esbarrar em um certo soldado das guerras napoleônicas chamado Sharpe. Sharpe era um soldado em um exército a beira do colapso. Suas aventuras eram uma mistura de estratégia militar e intrigas pessoais que levavam ele ao limite do que era certo ou errado. Era Cornwell me dando outra lição de humildade. E me mostrando que se eu quisesse contar alguma coisa interessante, eu precisava retornar alguns anos na minha história. Se havia algo de importante a contar em meu mundo, não havia nada mais interessante que a própria queda do Império.
Entre 2003 e 2005 eu terminei o primeiro tratamento do que viria ser “Chamas do Impérioâ€. Era a história de dois mercenários que acabavam se envolvendo nos bastidores de uma guerra eminente, sem saber ao certo as conseqüências de suas decisões. Era exatamente o tipo de história que eu queria contar. Quando mostrei ele a alguns amigos, porém, ficou claro que o livro tinha muitos buracos que precisavam ser corrigidos. Personagens que pareciam “corridos†demais. Tentei reescrever aquele primeiro livro algumas vezes, antes de concluir de que a história que eu estava contando ali estava errada. Era preciso voltar um passo a mais para poder explicar melhor o enredo e os personagens.
Chamas do Império cresceu de trás para frente, cronologicamente e eu comecei a pensar em histórias independentes que construÃssem o mosaico de uma guerra. Muita coisa aconteceu de 2005 pra cá. Eu continuei minhas leituras fantásticas, acrescentei Morcoock, resgatei Howard, continuei com Cornwell, Gaiman, Assimov, mas acabei me interessando por autores que foram me levando a cada segundo para mais longe de tudo isso. Chamas do Império havia se tornado um zumbido em meu ouvido, que vez por outra surgia no formato de contos e conversas animadas de bar. (Aqui) (Aqui) e (Aqui)
Em 2008 eu terminei um segundo tratamento de Chamas do Império, começando um longo ciclo de frustrações que me levaram através de 4 outros tratamentos, até eu finalmente me convencer de que se quisesse mesmo fazer algo, precisava desistir de tudo o que eu havia feito até então. Aquele assunto havia sido minha obsessão por doze anos e eu não tinha mais forças para seguir em frente.
Naquela mesma época, escrever havia se tornado um peso. Muita coisa acontecia na minha vida e eu simplesmente não queria mais. Comecei a estudar desenho e pintura e por um bom tempo aquilo me bastou, mesmo com os pedidos dos amigos para que a história fosse finalmente escrita.
Foi no final de 2011, sob vaias e protestos de duas amigas escritoras e sob o interesse de dois editores que eu finalmente voltei a olhar para as Chamas do Império. Eu não tinha então mais do que uma sinopse, muitos personagens e alguns fragmentos que precisavam ser costurados. As coisas não aconteceram como eu imaginava, porém, e 2012 foi um ano dedicado a resolver problemas pessoais o que culminou com muito tempo livre em 2013.
De 1995 a 2013, dezoito anos haviam se passado e muita coisa havia mudado no universo da fantasia. A necessidade de histórias de fantasia mais densas, que eu sentia lá atrás, foram preenchidas por diversos autores: Martin e Humpreys, entre outros, tinham tornado a literatura mais adulta e interessante e por um instante eu voltei a me sentir como o rapaz que havia conhecido Cornwell: irrelevante. Foi quando eu me dei conta do que eu estava tentando fazer e Chamas do Império finalmente ganhou sua voz própria.
Se alguém me perguntar qual foi o autor que me inspirou a escrever as Chamas do Império, vou listar todos os que eu mencionei aqui, com um destaque todo especial a Bernard Cornwell. Apesar de ele não escrever histórias de fantasia, ele escreve o tipo de história que eu gostaria de escrever. Cornwell também me mostrou que existe muito mais em fatos históricos do que datas recitadas em um livro e como ele eu resolvi usar fatos históricos para imaginar possibilidades ficcionais. Ninguém descreve o barulho de um arco como Bernard Cornwell. Diz na orelha de um de seus livros. Então, se alguém um dia me comparar com Cornwell nem que seja pra dizer que eu sou uma cópia piorada dele com um tanto de magia, eu vou ficar radiante pela comparação. Espero apenas que exista um pouquinho de mim, mesmo que seja a parte que foi piorada.
Boa leitura.
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