Palavras em Chamas
On July 18, 2017 | 0 Comments
Palavras em Chamas |
Words on fire, by Ema (disnemma)

Dizem que escrever a continuação de um livro é sempre difícil. Hoje eu posso dizer o quanto isso é verdade. Quando me programei para escrever o segundo volume do Chamas do Império em 100 dias, eu sinceramente achei que seria possível. Não achei que seria fácil, nem achei que terminaria com uma obra perfeita, mas tinha certeza de que neste prazo eu teria uma estrutura minimamente organizada que poderia ser melhorada em um segundo rascunho. A realidade porém, se revelou um pouco mais complicada.

Inicialmente o livro andou de vento em poupa, com alguns trechos interessantes e algumas revelações bastante promissoras, mas depois de algumas dezenas de páginas eu comecei a me incomodar com o ritmo da história. O livro parecia lento, com uma apresentação sem fim de personagens que começou a me incomodar e foi ai que eu empaquei. Queria acrescentar velocidade no inicio do livro e comecei a rever a estrutura para ver onde eu conseguiria alterar a construção para dar ênfase em um ou outro personagem. Deveria ter sido uma reconstrução simples, mas confesso que aqui me perdi e comecei a pensar em soluções para simplificar a história.

O enredo foi ficando cada vez mais em aberto, até se tornar uma esponja cheia de buracos onde quase tudo podia se encaixar. Eram tantas possibilidades que a história simplesmente afundou no charco da indecisão e estagnou.

Não tive outra escolha exceto começar do zero, mas eu continuava voltando aos mesmos erros que eu já tinha cometido. Percebi o quanto é difícil se livrar de um mind setting para trazer coisas novas. Dividi o livro em dois, depois dividi de novo em dois, daí escolhi uma metade, depois escolhi a outra e varias coisas foram se tornando claras a respeito dos personagens, do enredo, da vida, do universo e tudo mais, mas nenhuma outra linha foi escrita.

As minhas melhores revelações aconteceram enquanto eu falava sobre um problema específico da obra. As vezes um problema desaparece no momento em que ele é identificado e quando você tem que explicar o que está acontecendo a outra pessoa, o cérebro automaticamente processa a solução. Outras questões permanecem embaralhadas a minha frente. Quem já montou um quebra-cabeças deve conhecer essa sensação. Você já viu todas as peças e já sabe dizer até qual é o tema da imagem completa, mas ainda não sabe onde cada uma vai, antes de experimentar encaixá-las.

Vez por outra eu tenho vislumbres da história completa. É como quando temos uma palavra na ponta da língua, mas não conseguimos pronunciá-la. As vezes eu tenho a certeza de que se eu pudesse me sentar para escrever, teria o livro inteiro na minha frente, mas essa grande verdade nunca dura mais do que alguns segundos e então se perde. Apesar da agonia, essa sensação traz algum consolo. Sei que a história está aqui em algum lugar e que eu só preciso acessá-la, então eu continuo procurando um caminho. Não importa por quantos dias.

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