Dugeons & Dragons: Honra entre rebeldes estreou e eu tive a sorte de conseguir participar da Spoiler Night e sim, estou atrasado para falar sobre isso, como estou atrasado para falar de quase tudo na minha vida, mas vamos lá!
Se você não se perdeu em uma caverna nos últimos anos, é muito improvável que não saiba o que significa a sigla RPG. Qualquer um que tenha navegado pelos jogos de uma loja de aplicativos já passou por essa sessão e encontrou jogos de estratégia com cara de tabuleiro, heróis com espadas, machados, muita magia e monstros diversos, o que pode dar uma ideia do que estamos falando.
Esses games eletrônicos são apenas a faceta mais simples de um universo muito maior, cuja origem eu não vou entediar ninguém a contar, mas que se define como um jogo de estratégia e interpretação. Roler Play Game significa exatamente isso. Um jogo de interpretação de papéis, um teatro sem roteiro. Nele, os jogadores interpretam heróis lendários (às vezes nem tanto) em mundos fantásticos, enfrentando desafios propostos pelo Mestre do Jogo, baseados em um conjunto de regras que pode variar conforme a sua religião… digo, seu sistema de jogo.
O primeiro RPG e provavelmente o RPG mais famoso do mundo é Dugeons and Dragons, um conjunto de regras e um cenário de jogo que inspirou milhares de pessoas ao redor do mundo e transformou o passatempo em uma mania mundial, dando filhotes, bastardos e herdeiros, que se espalharam por todos os lados e hoje abrangem todo e qualquer tipo de história. De vampiros às aventuras espaciais, ou de vampiros espaciais, tudo é válido.
Dugeons and Dragons está por aí a décadas e sempre foi fonte de orgulho e identificação da comunidade nerd. Os nerds são hype, os nerds estão na moda e com eles trouxeram o Dugeons and Dragons que foi rapidamente escapando da bolha. As séries The Big Bang Theory e Stranger Things, tem arcos inteiros dedicados ao passatempo, com foco principal em D&D, mas os mais antigos vão se lembrar também de Caverna do Dragão, que é basicamente a história de um grupo de garotos que se perde em um universo de RPG.
Essa longa introdução foi só para afirmar que com tudo isso, demorou um bocado para uma adaptação de Dugeons and Dragons explodir no cinema. Claro, houve tentativas anteriores, mas com os recursos da época e a disposição da indústria do cinema, com resultados que iam do esquecível ao vexaminoso, praticamente sepultando as tentativas.
A nova onda de histórias de fantasia, porém, aliada a popularidade dos jogos puxados pelos sucessos de games, livros e programas de televisão, deram ao Dugeons & Dragons uma nova chance no cinema e eis que chegamos a Honra entre Rebeldes que acaba de estrear.
Se você estiver em busca de personagens densos, com passados sombrios, vivendo aventuras sanguinárias e cheias de apelos morais, onde o cheiro das vísceras e do suor transparecessem na película dessaturada, Honra entre Rebeldes não é o que você quer assistir. A melhor classificação para o filme seria “comédia de aventura” e essa foi a melhor decisão que o produtor teve ao tocar o projeto, abandonar o tom sério que muitos fãs esperavam de um filme como esse e abraçar o melhor lado de uma partida de RPG: a diversão.
O filme é sobre um grupo de aventureiros de habilidades bastante questionáveis que se une em torno da missão de roubar os mais ricos e ficar com o dinheiro, o que eles fazem com bastante competência apesar das trapalhadas, até que inevitavelmente algo dá errado, eles se separam e alguns vão presos. Anos mais tarde, é preciso reunir o bando para tentar desfazer o que fizeram de errado.
O problema, é que nada realmente dá certo para esse grupo desajustado. Todos são muito ruins naquilo que fazem de melhor e cada decisão leva a um novo erro que leva a novo plano que leva a uma nova decisão, empurrando os personagens para aventuras cada vez mais absurdas. O que era para ser algo simples, logo se torna uma luta pelo destino de uma cidade. A sensação é de que o Mestre do Jogo está curtindo o momento e dando corda para os personagens se desenvolverem, enquanto eles fazem planos cada vez mais absurdos. E ISSO É UM ELOGIO.
Sim! A melhor coisa de Dugeons and Dragons: Honra entre Ladrões é a sensação de que tudo está absolutamente fora de controle e você não tem a menor ideia do que virá a seguir, embora lentamente (muito muito lentamente), os personagens acabem contornando suas próprias limitações e alcançando seu verdadeiro potencial, mesmo sendo um bando de idiotas com todos os defeitos do mundo.
Com excelentes piadas, para fãs e não fãs de RPG, muito fanservice para os mais herméticos e algumas participações bastante especiais para os saudosistas, saí da sessão de cinema animado como se tivesse acabado de jogar uma excelente partida com amigos queridos. Cheios de risadas sinceras, salgadinhos espalhados pela mesa, momentos de tensão, tristeza, coragens absurdas e decisões que dependem da pura sorte dos dados para dar certo.
Chris Pine como o líder do bando Edgin Darvis e Michelle Rodriguez como a bárbara Holga Kilgore são, sem sombra de dúvida, o ponto alto do filme, com uma mecânica na tela que não tinha como funcionar melhor, entregando uma amizade convincente construída com maestria para um final bastante emocionante, mas é preciso destacar Justice Smith também, como feiticeiro Simon Aumar e Hugh Grant, como o trambiqueiro Forge Fitzwilliam, cujo carisma em tela é tão bom quanto em sua ficha de personagem. Um pouco deslocada, mas ainda assim minha personagem favorita, Sophia Lillis não entrega o seu melhor para a druidesa Doric, embora protagonize as melhores cenas de ação do filme.
Quem me conhece, já leu meus livros e sabe das minhas leituras, talvez estranhe o que eu direi a seguir, mas a verdade é que em um mundo repleto de fantasias sombrias como Game of Thrones, ou épicos apoteóticos como Anéis do Poder, foi um sopro de ar fresco poder me sentar e assistir uma história digna de sessão da tarde, com um grupo desajustado de amigos, tentando o seu melhor e falhando miseravelmente, enquanto reforçam seus laços de amizade.
Estou ansioso para a próxima partida.
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