Responda, quanto custa o seu tempo? Se eu pudesse te dar um lance agora, pelo que resta da sua vida, de quanto dinheiro estaríamos falando? E se ao invés disso eu comprasse suas memórias, quantas moedas de prata fecharam o negócio? Parece caro. Talvez eu não tenha todo esse dinheiro. Quanto valeria então um ano da sua vida? Menos que isso não me interessa, estou comprando no atacado. Parece que eu fiquei louco?
Talvez tenha ficado. O mundo inteiro. Por todos os lados. Somos todos loucos aqui, tic tac. Todo mês recebemos em prestações pelo tempo que perdemos. É dito que você vende seu conhecimento, sua experiência, seu talento, mas o que as pessoas estão comprando é o seu tempo.
Já pensou sobre isso? Tenho certeza que já, talvez não nestes termos. Talvez enquanto sonhava com uma cadeira de praia e as ondas molhando os seus pés. Talvez enquanto planejava as memórias que você quer ter com seus filhos, antes que o tempo acabe. Essa batalha, você sabe, está perdida. Não existe Se onde reina o Quando. A ampulheta não para.
Mesmo assim, vendemos nosso tempo, como se ele fosse infinito e não é nossa culpa, precisamos dele para comprar o tempo dos outros e é assim que as engrenagens dessa grande loucura continua a girar, mastigando quem se perde entre seus dentes. Não existe nada de novo aqui. Não fui o primeiro a falar sobre isso e é quase certo que não serei o último. Gente muito melhor do que eu já foi fuzilada por contar tais blasfêmias. A mão invisível empunha um chicote de espinhos.
Voltamos ao tempo. Ao tempo que as coisas levam. Outro dia me ofereceram escrever para um blog. Dez centavos por cada palavra. Cem reais a cada mil. Parece muito, ou pouco? Mil palavras sobre um assunto que eu gosto e conheço leva menos de uma hora. Sobre um assunto que eu odeio e não conheço, leva mais do que um dia. Valeria? E quanto a moça que sendo tiranizada pela barriga seca dos filhos, oferece um dia de faxina pesada pelas mesmas trinta moedas com que Judas vendeu o beijo de Cristo? Trinta dinheiros. Dois pratos de comida, sem muitas exigências. O valor de trezentas palavras. Vinte minutos, ou duas horas.
Dizem que se Bill Gates ver uma nota de cem dólares no chão, o tempo que ele levaria para pegá-la valeria mais do que a nota em si. Que se o primeiro macaco a descer da sua árvore para dar origem a humanidade recebesse um salário classe média até os dias de hoje, ainda não teria o que Jeff Bezos tem na sua conta do banco. Que sorte a dele. Todo aquele tempo acumulado na caixa forte, vampirizado de outras pessoas, sem que uma única moeda consiga comprar de volta os minutos que Dona Morte reivindique para si.
E o meu tempo? As trinta moedas? As mil palavras? Os minutos em que eu podia ouvir uma nova música. Brincar de cabo de guerra com minhas cadelas. Ligar saudoso para a minha mãe. Todo o tempo que eu acumulei nessas quatro paredes, mastigando as teclas para manter minha sanidade. Quanto vale? Nada. Quando muito, vale o seu tempo, nada além disso. Todas as memórias que eu escrevi, de vidas que eu não vivi, para pessoas que eu quase não conheci, pode não te valer nada, mas é a minha vida. O meu relógio. Não me faça perder tempo.
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