Eu sonho com o fim do mundo.
Sonho com o fim do mundo com tanta frequência que a maioria das pessoas ficaria assustada. Sonho com o fim do mundo em tamanhas variedades que não existe filme de Hollywood que consiga me surpreender. É algo que não entendo, mas que já assimilei. Uma ou duas vezes neste mês eu vou sonhar com o fim do mundo, mais certo do que qualquer profecia.
Os sonhos são variados e nem sempre fazem muito sentido, exceto pela certeza de fim. Passo por apocalipses bíblicos com carruagens de fogo e ídolos de ferro onde crianças são sacrificadas e invasões alienígenas que arrebanham os humanos para fazer carne processada. As vezes os sonhos ganham ares cômicos, como um ataque de cães bassê vampiros (e sim, eu sonhei mesmo com isso), outras vezes são tão reais quanto explosões nucleares varrendo cidades inteiras do mapa. Desertos são frequentes. A fúria do mar também. Muitas vezes existem tempestades ou fogo vindo do céu. A terra rachou ao meio uma vez, o sol foi devorado por um dragão, plantas carnívoras cresceram no asfalto e devoraram tudo o que se movia. O mundo já acabou tantas e tantas vezes nos meus sonhos que é estranho acordar para vê-lo no fim.
As vezes acho que estou sonhando com uma pandemia. Deve ser a quinta ou sexta ao longo dos anos. Desta vez não sou um índio sendo exterminado pela varíola, nem um camponês entregando tudo pela cura da peste. Talvez essa seja aquela versão do fim do mundo em que a sociedade é destruída por zumbis sem cérebro. Gente que finque que não foi mordido e contamina o resto do grupo, ou que tenta monopolizar a cura para manter o controle de todos. Nessa edição do fim do mundo, além dos zumbis sem cérebro temos também uma pandemia de COVID e é difícil definir o que é mais nocivo.
Queria que o mundo acabasse de verdade, não no sentido figurado, nem em sonho. Queria que acabasse para a humanidade. Eu sei o quanto isso parece terrível, mas algo em nós deu errado e eu acho que é difícil de ser consertado. Tem hora em que é simplesmente mais fácil jogar o rascunho no lixo e recomeçar tudo de novo.
Não sou nenhum sádico, não torço para nenhum fim trágico, cheio de dor, sofrimento e punição. Nem precisaria ser imediato, ou conflituoso. A humanidade poderia simplesmente dar-se por vencida e esvanecer. A população reduzindo, as cidades sendo abandonadas, a vida se tornando mais simples, chuva e sol roendo o asfalto. Pouco a pouco, até que encontrar outro ser humano se tornasse tão raro que fosse motivo de celebração. Então, um dia, o último homem, se deitaria pela última vez e não acordaria.
Seria o fim das indústrias, das guerras, da fome e da exploração. Acabaria a poesia, a música e a pintura. Seria o fim dos shows pirotécnicos, dos encontros nervosos, das apresentações de stand-up. Todo teatro, toda ciência, toda religião encontraria seu fim. E tudo bem.
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