Pesquisas apontam que 90% do trabalho do autor é completamente invisível. OK, eu inventei essa pesquisa, mas o sentimento que qualquer autor que se leva a sério tem é exatamente esse: a maior parte do seu trabalho é feito em silêncio, refeito nas sombras e esquecido nas gavetas. Os outros 10% são entregues ao acaso, esquecidos em pilhas de avaliação, capturados nos loops da revisão, eternizados nos obscuros recantos da internet onde são vez por outra encontrados por pesquisas aleatórias do google sobre termos que deixariam seus pais envergonhados. Pois é.
Escrever é um trabalho do coxia, para quem não gosta de holofote. O autor passa a vida toda trancado diante de suas histórias, procurando soluções para plots impossíveis. O reconhecimento – se ele vier – é fulgaz e aleatório e praticamente não existe dinheiro. Ouso dizer que, tirando um ou outro autor de sucesso, escrever deve ser a profissão mais mal paga do mundo.
É fácil desanimar. Das dezenas de projetos que eu tenho em andamento, só 4 estão finalizados, destes 4 somente um está sendo comercializado. Os outros três estão perdidos no extenso mar da agonia, tentando alcançar o domínio dos deuses. O que fazer neste caso? Desistir? Desistir nunca é uma opção. Não existe ex-escritor, assim como não existe ex-alcoolatra. Parar de escrever é sempre provisório, nunca definitivo. Pode-se recolher-se em um canto e ficar em silêncio por um tempo contando os dias – “Oi, meu nome é Diego e eu estou a 3 dias sem escrever” – Mas inevitavelmente voltamos ao copo, a pena, ao parágrafo, ao lamento, ao verso, ao comichão que a palavra não alcança a traseira do nosso lóbulo frontal.
Desistir não é uma possibilidade. Se fosse, não existiriam escritores. Escrever é uma compulsão, um expurgo, sintoma de um cérebro defeituoso que tenta se entender ao entender o mundo. Nove décimos de sofrimento por um décimo de um rush passageiro, que logo te faz querer mais. Se você consegue pensar seriamente em desistir, você não é um verdadeiro escritor.
Se lutar contra a compulsão é impossível e todo o trabalho parece vão, o que nos resta como autores? Nos resta continuar escrevendo. Ignorar as cartas de negativas, os livros encalhados, os contos que não encontram espaço. Ignorar as resenhas ácidas, a sabotagem dos “colegas”, a noite não dormida. O que nos resta é sentar a bunda na cadeira e escrever como se sua vida dependesse disso, porquê, de fato, depende. Se você parar de escrever, você vai morrer. Você vai definhar e levar contigo todos os personagens que não ganharam as folhas. Todos os mundos que flutuavam no infinito de sua alma. Um escritor que não escreve é um genocida, levando para o túmulo todas as histórias que devia ter contato, então escreva. Escreva apesar de tudo. Escreva como se a morte estivesse sentada na sua antessala esperando seu interva-lo de 5 minutos. Escreva, mesmo que você não publique, mesmo que os editores odeiem, mesmo que ninguém leia. Escreva mesmo que seja para encher um baú de papéis que serão vendidos pelo peso do papel após a sua morte. Escreva. Não existe outra solução. Você não vai ser feliz de outra forma. Talvez, mesmo, você não seja feliz nunca, então esqueça essa merda toda ao seu redor. E escreva. Pesquisas apontam que 90% do trabalho de um autor é invisível. São esses 90% que separam quem é escritor e quem só vive pelos aplausos.
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