Deus ex machina é uma expressão latina, de origem grega que significa “Deus surgindo da máquina” e é usada para indicar aquele momento em uma obra ficcional em que a mão do autor se torna visível por uma solução improvável, como um passe de mágica.
Toda obra de ficção é uma mentira que se bem contada nos passa a ilusão de realidade. Passamos a acreditar naquele universo onírico em que estamos imersos. Deus ex machina é o rompimento dessa ilusão, quando o autor rompe as cadeias de lógica da história e nos empurra uma solução desconexa com o problema. Esse rompimento revela a presença do autor, como um operador de marionetes escondido por trás do palco, anulando qualquer ilusão de realidade.
Dizem que a expressão surgiu no teatro grego, quando algumas peças passaram a se utilizar de um autor fantasiado de deus que surgia no fim da peça para magicamente amarrar todas as pontas soltar da história, mesmo que para isso precisasse desafiar a lógica.
Deus ex machina é um artificio bastante comum em novelas com reviravoltas brilhantes, em que personagens somem, aparecem, engravidam, morrem e ressuscitam seguindo os ditames do público, mas também é bem comum em outras obras. É a cavalaria que chega quando tudo está perdido. É o poder oculto que se revela na última hora. É o personagem que fingiu a própria morte e ressurge para concluir a trama, como um deus suspenso por engrenagens. Se torna mais visível quando a história está encurralada e algo completamente improvável a coloca novamente em movimento.
Existe um cuidado todo especial, quando estamos escrevendo universos fantásticos onde absolutamente tudo pode ser possível, para não nos encostarmos nessas muletas narrativas. É particularmente cômodo entregar toda a solução de um problema a presença de um feiticeiro que resolve a tudo como um passe de mágica. O problema maior, nesse caso, não é nem a presença revelada do autor, mas a completa anulação da sensação de perigo. Como saber que se tudo está perdido, Gandalf pode chamar as águias, que misteriosamente estão sempre prontas a ajudar.
Como regra geral, toda habilidade de um personagem deve ser demonstrada antes dela se fazer útil de verdade. Se um feiticeiro pode abrir as portas do inferno, deixe isso claro, mesmo sem mostrar a magica acontecendo, evidencie que a qualquer momento ele pode fazê-lo. Se existe uma chance da cavalaria estar por perto, é melhor que você descreva o som dos cavalos ao longe. As evidências de uma solução devem estar na história, antes do problema aparecer, do contrário ficará evidente que o autor retirou aquela resposta como um coelho de uma cartola.
Um autor deve trabalhar para dificultar a vida dos personagens, usando de todos os meios que achar necessário, mas precisa deixa-los sair destes problemas sozinhos, com esforço e a dose de sacrifícios equivalente, para que eles ganhem o respeito do público, deixando Deus bem escondido, nas engrenagens da máquina.
There are no products |