No começo desta semana eu comecei a listar os 10 livros que mais me influenciaram a escrever o Chamas do Império, sem ordem e sem regras. A idéia não era uma lista completa e absoluta sobre com todas as referências que você pode encontrar na minha obra, apenas dar uma idéia de alguns dos livros que eu li antes de começar a versão final do Chamas do Império e como essas leituras influenciaram no meu trabalho. A segunda parte desta lista tem alguns livros menos conhecidos, e talvez um pouco menos atraentes, misturados com alguns sucessos reconhecidos, um livro de cavalaria e uma obra de não-ficção. A lista me fez pensar em dez filmes que também me inspiraram na construção do Chamas, mas isso certamente é assunto para outro post. Vamos aos livros:
Elric de Melniboné é o último Imperador de um Império de Dez Mil anos. Um feiticeiro albino e de saúde fraca, que depende de sua espada para sugar a vida de seus inimigos e manter-se vivo. Os melniboneses são muito parecidos com elfos (Elric vem de AElfric que significa senhor dos elfos), mas ao contrário dos elfos heroicos de Tolkien, os melniboneses são mesquinhos e cruéis. Elric é, de todas as formas que podemos pensa-lo um vilão, cheio de traições, maldades e pactos demoníacos, mas isso não nos impede de nos apaixonar por ele e torcer pelo seu sucesso, no Mundo de Elric não existe espaço para moral, ou para bondade. Depois de tudo isso, acho que não preciso explicar porque Moorcock se tornou um dos meus autores de cabeceira, certo? Embora A Espada Diabólica tenha sido lançado primeiro, ele é de fato o último livro da Saga de Elric (e o único que foi publicado no Brasil). Foi de Moorcock que eu roubei a idéia de um Império que atravessasse os milênios e de reis feiticeiros que dominassem seu povo. Melniboné poderia ter sido Andarian, o reino antigo, ou Tallemar, o reino de além mar, ambos completamente erradicados do mundo.
Eu precisaria de um livro inteiro para poder explicar a admiração que tenho por Bernard Cornwell. Sharpe é um soldado inglês, lutando nas guerras napoleônicas e somente uma mente como a de Cornwell poderia nos transportar para as fileiras de Sharpe, com as botas afundadas na lama e os olhos vidrados na nuvem fedorenta de pólvora, em busca de qualquer sinal do inimigo. Sharpe não é ninguém especial. É inteligente e prático, capaz de jogar sujo se isso for preciso para cumprir uma missão. De nascimento baixo, ele luta duas vezes mais, pela metade do reconhecimento dos oficiais nobres. Cornwell já tinha me ensinado o valor dos personagens nas Crônicas de Artur, mas através de Sharpe eu comecei a estudar como aproximar o leitor da ação do livro e deixa-lo com as unhas sujas de terra. Jhomm Krulgar tem um pouco de Sharpe em seu jeito objetivo de lidar com o mundo e a presença dos personagens nas batalhas, passa longe dos estandartes e das mesas de negociação, para ficar nas fileiras dos campos de batalha. Se Chamas do Império é uma história de soldados, a culpa é de Richard Sharpe. Cornwell escreveu os livros de Richard Sharpe fora de ordem (embora no Brasil eles estejam sendo publicados em ordem cronológica), o que me deu inspiração para a estrutura que eu imaginava para o Chamas do Império. Ao contrário de Cornwell, porém, eu escolhi não me focar em um único personagem.
Se você se lembra do Conan de Arnold Schwarzenegger, sinto muito. Você ainda não viu o verdadeiro Conan. A obra máxima de Howard é muito mais do que uma pilha de músculos com uma espada para arrebentar crânios. Conan é acima de tudo, sagaz. Ele tem um jeito malandro de lidar com o mundo e usa a violência de forma criativa para se livrar dos problemas em que se mete. O mundo de Conan é uma colagem de diversas civilizações humanas e tem um ar antigo e venenoso como as presas de Seth, sem deixar de ser absolutamente crível. Howard era um contemporâneo de Lovecraft, que bebia no mito das civilizações ancestrais e dos monstros da escuridão prontos a arrastar todos para a loucura. Howard escrevia contos para revistas pulp e Conan não tem nenhum romance. Sua história é fragmentada e cheia de buracos. Em um momento ele é um ladrão de rua, outra ele é um velho rei. Em algumas ele é um corsário no mar e em outras é um saqueador de tumbas. E a gente tem apenas uma idéia de como ele chegou àquela posição. A estrutura do Chamas do Império tem um pouco dessa fragmentação, com arcos que se fecham em cada livro dando espaço para novas histórias no próximo.
O livro de Haggard conta a história de Godwin e Wulf, dois irmãos que se apaixonam pela filha de Saladino, o sultão muçulmano que está prestes a entrar em guerra com os cristãos e tomar Jerusalém. O conflito entre Cristãos e Mulçumanos durante as cruzadas foi o mais próximo que eu consegui chegar na construção para o conflito entre Imperialistas e Separatistas (embora em boa parte, este conflito do Chamas também tenha se inspirado na guerra da secessão americana). A amizade que existe entre os dois irmãos é um pouco do que eu vejo na amizade entre Krulgar e Khirk. Em terras estranhas, a relação fraterna de Godwin e Wulf só cresce e assim como os dois irmãos, Khirk e Krulgar atravessam territórios estranhos, sem ter ninguém, exceto eles mesmos em quem confiar, embora a relação entre o mercenário e o dhäen, no chamas do império se aproxime muito mais da amizade que existe entre pai e filho.
Nem só de ficção vive o Império. Edward Gibbon escreveu a maior (se não melhor) obra sobre a história do Império Romano, um trabalho gigantesco, com diversos volumes que eu não vou fingir ter lido. Tive a oportunidade de ler, porém, a versão “enxuta” de Gibbon, que relata os momentos finais do Império, as invasões bárbaras, o enfraquecimento dos exércitos romanos e a corrupção do Ideal dos seus fundadores. Não é a obra mais vibrante para quem não gosta de História, mas eu não podia deixar de citá-la como uma das obras fundamentais para o germinar das Chamas do Império. Foi importante entender o funcionamento de um Império real, sua estrutura de poder e dominação, para que Karis tomasse forma na minha mente. De quebra, transportei as estradas romanas para Qaran, através das Estradas Imperiais e dei a elas um toque fantástico, através do efeito que os viajantes chamam de Bota do Gigante. A história real é uma das melhores fontes de inspiração para um universo fantástico.
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