Espada e Feitiçaria
On May 11, 2016 | 6 Comments

Muito antes do Grindark e do Dark Fantasy, existiu o gênero Espada e Feitiçaria (Sword and Sorcery), essa raiz comum é o provável motivo para que exista tanta dificuldade em se diferenciar estes gêneros. O termo Espada e Feitiçaria foi criado por Michael Moorcock e Fritz Leiber em 1961 para nomear o trabalho que Robert E. Howard tinha feito a quase trinta anos, diferenciando-o da alta fantasia.

Espada e Feitiçaria é um subgênero da fantasia com heróis espadachins envolvidos em conflitos violentos com elementos de sobrenatural. O gênero se concentra nas cenas de ação e batalhas pessoais, diferente da Alta Fantasia que permite um questionamento mais filosófico e com um mundo que precisa ser salvo. Lou Anders, editor da Pyr Books, sabe como é difícil tentar uma definição clara entre os gêneros, em sua opinião, por exemplo, O Hobbit deveria ser classificado como Espada e Feitiçaria, já que a história é motivada pelos desejos pessoais de Bilbo e conta sua própria aventura “lá e de volta outra vez”, enquanto O Senhor dos Anéis seria Fantasia Épica, já que envolve grandes heróis e grandes batalhas pelo destino do mundo. Anders diz que:

Quando se trata de definições, eu prefiro pensar em subgêneros como os picos das montanhas. Sabemos que, Conan da Ciméria de Robert E. Howard é pura Espada e Fetiçaria e que o Senhor dos Anéis é pura Fantasia épica, mas conformes descemos as montanhas, os limites entre um e outro se tornam obscuros e vamos perdendo o declive. Além do mais, pode haver um trabalho emocionante no vale entre os dois picos (A Companhia Negra, de Glen Cook, por exemplo).

Se seguirmos a definição usada por Anders, podemos concluir que é neste vale que podemos encontrar o Grimdark.

A origem do gênero provavelmente são os épicos gregos e nórdicos, embora exista uma linha clara de ascendência com o gênero de capa e espada a quem pertencia Alexandre Dumas (Os Três Mosqueteiros, 1844) e uma influência clara dos contos orientais como As Mil e Uma Noites, ricos em feiticeiros malignos e monstros sobrenaturais.

A Espada e Feitiçaria nasceu nas revistas pulp, o próprio termo foi cunhado como um slogan de venda, e tinha o objetivo claro de entreter o público. Suas histórias frequentemente envolviam protagonistas másculos, muitas vezes sem camisa, empenhados em salvar mulheres semi nuas de monstros assustadores, imagens que se tornariam icônicas nas capas de suas revistas.

Como dissemos antes, Grindark e Dark Fantasy têm origem clara na Espada e Feitiçaria, mas têm também suas diferenças com o gênero. Enquanto no Grindark os personagens são sempre cinzentos e o final sempre amargo, a Espada e Feitiçaria comporta finais com uma vitória mais clara e protagonistas mais heroicos, embora isso seja mais uma exceção do que uma regra. Espada e Feitiçaria também não tem a mesma conexão com o terror que existe no Dark Fantasy, embora exista nela algum elemento sobrenatural, comum ao gênero de fantasia.

Quando a estrutura, é bom lembrar que Espada e Feitiçaria, tende a se concentrar na história de um único personagem e seus objetivos pessoais, como disse Anders:

Histórias de Espada e Feitiçaria tendem a se restringir a um ou dos personagens, com objetivos simples e com muita ação confinados em um momento.

Convém não ignorarmos o acréscimo de Andrew P. Mayer na tentativa de diferenciar a Fantasia Épica e a Espada e Feitiçaria. Para ele, a principal diferença entre as duas é a escala de ação. Enquanto na Fantasia Épica existe uma discussão política que leva a ação que inevitavelmente muda o mundo e todos ficam sabendo, Espada e Feitiçaria são as histórias das forças invisíveis e poderes misteriosos, cujos protagonistas das maiores obras vão permanecer desconhecidos para a grande maioria do mundo. As histórias são, de maneira geral, mais pessoais.

Apesar de parecer bobagem a tentativa de se definir as possíveis diferenças entre os gêneros é bom lembrar que é através destas definições que começamos a compreender o que nos agrada ou não em um determinado tipo de história.

Apesar das polêmicas envolvendo a necessidade destas definições, é bom lembrar que também houve polêmica na necessidade de se separar Espada e Feitiçaria do restante da Fantasia, embora hoje isso seja praticamente um senso comum. Se periodicamente não houvessem esses estudos, a literatura ainda estaria dividida entre Prosa e Poesia e nós estaríamos perdidos entre um e outro.

Referências

https://en.wikipedia.org/wiki/Sword_and_sorcery

https://www.blackgate.com/the-demarcation-of-sword-and-sorcery/

http://io9.gizmodo.com/whats-the-difference-between-epic-fantasy-and-sword-and-1617687425

Comments6
Wagner Weite Thomé Posted May 15, 2016 at9:37 am   Reply

Embora seja difícil e quase impossível classificar história por história,é sempre bom conhecer a teoria sobre o assunto. As melhores histórias nunca se prendem em um único gênero, de qualquer forma.
Ótimo post, parabéns!
Abraço

Diggs Posted May 15, 2016 at9:43 am   Reply

Ainda bem. Já pensou que porre se não fosse assim? Ficaríamos lendo sempre as mesmas histórias…

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