Escrever é um trabalho prazeroso, mas continua sendo um trabalho. Muitas pessoas não conseguem enxergar desta forma, mas mesmo as que romantizam o ofício como a mais sublime forma de arte (muito além do capitalismo) precisa admitir que existem duas formas de se avançar na literatura: prática e estudo. Dá prática falamos muito, mas hoje quero falar sobre o estudo.
Se você não tem tempo ou condições de frequentar oficinas de escrita (o que eu recomendo), provavelmente se viu tentado a comprar algum livro sobre técnicas de escrita e descobriu que existe uma enxurrada deles no mercado. Sinta-se grato. Não muito tempo atrás as opções eram bastante limitadas, mas então, por onde começar? Estas são algumas das obras que li e me ajudaram de alguma forma no meu processo criativo.
David Lodge manteve ao longo dos anos uma coluna sobre ficção no “The Independent on Sunday”. Os artigos para essa coluna foram posteriormente revisados e publicados como A Arte da Ficção. De leitura agradável, os capítulos discorrem por temas diversos enquanto esmiúça obras de literatura clássica e acabam respondendo dúvidas corriqueiras como “Começo”, “Estrutura Narrativa”, “Mostrar e dizer” e outros termos que costumamos ouvir. Como foi escrito para o público em geral, o texto é fluído e nada complicado. O autor traz citações para exemplificar o que está dizendo e deixa tudo com cara de óbvio, para a gente se sentir um gênio.
LODGE, David. A Arte da ficção. 1o Ed. Porto Alegre : L&PM, 2010
Story não é um livro sobre literatura, exatamente. É um livro sobre roteiros. Durante muitos anos aqui no Brasil era mais fácil encontrar livros sobre roteiros do que oficinas literárias, mas nenhum dos livros sobre roteiro é tão essencial quanto Story e muito do que McKee é facilmente transposto para a novela ou conto, como a estrutura do Beat, Cena, Evento, ou a construção de um personagem, entre outras lições que tornam Story um livro primordial para quem quer contar uma boa história, seja ela em qualquer meio, na minha opinião.
Se você já escreve ou já pesquisou sobre estruturas narrativas, com toda certeza já ouviu falar da Jornada do herói, o monomito universal que parece presente em todas as grandes histórias da humanidade. A jornada do herói foi eternizada na obra “O Herói de Mil Faces” do antropólogo Joseph Campbell, mas foi Vogler quem a popularizou como estrutura de criação literária através da Jornada do Escritor. Para quem acha que “A Jornada do Herói” é uma estrutura ultrapassada que só funciona para histórias míticas, sugiro realmente ler este livro ao invés dos artigos da internet. Nele Vogler mostra como a estrutura é adaptável a todo tipo de histórias, usando exemplos que vão do Mágico de Oz, 007 e o Poderoso Chefão. As dicas no fim dos capítulos têm sentido prático para você ir construindo a sua história a medida em que segue lendo.
K. M. Weiland é uma escritora da nova era e bem pouco conhecida. Eu mesmo só cheguei a este livro por acidente, mas espero que ela encontre a popularidade necessária para que outras pessoas realmente acabem procurando por ele. Infelizmente Weiland ainda não foi traduzida para o português, mas nesse seu breve manual ela pega o leitor pela mão e o guia no trabalho de escrever o livro. Sua estrutura narrativa é uma das coisas mais dinâmicas que eu vi nos últimos tempos e é o que vem funcionando para mim hoje. Se a língua não for um problema, 5 Secrets of Story vai se tornar seu livro de cabeceira.
WEILAND, K.M. 5 Secrets of Story, How to write a Novel That Stands Out. E-book
Esse livro é tão delicioso que você até esquece de estar fazendo uma leitura técnica. Assim como Lodge, Wood escreve pequenos capítulos com pensamentos sobre a construção narrativa, analisando obras clássicas. Os capítulos são apetitosamente divididos em pequenos enxertos que você lê aos punhados, sem nem ver o tempo passar, mas não se engane. As discussões do livro são profundas e bastante técnicas, desde o distanciamento do narrador até a importância, ou não, dos detalhes; linguagem e empatia. É como estar na aula daquele professor gente boa, que é tão divertida que você nem viu que aprendeu alguma coisa.
WOOD, James. Como funciona a ficção. São Paulo : Cosac Naify, 2012
Observação: Apesar de na bibliografia constar as edições que eu possuo em casa, muitas delas são antigas e pertenciam a outras editoras, por isso optei por linkar a cada livro a edição mais atual disponível.
Gostaram das dicas? Vocês já leram algum destes livros? Quais livros vocês acham que deveriam entrar na lista para ajudar os autores que estão começando? Deixe nos suas sugestões nos comentários!
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