Hack Nike é um funcionário ordinário da equipe de distribuição de Mershandising da Nike que por acidente acaba cruzando o caminho de John Nike e John Nike, alto executivos do departamento de marketing. John e John dão a Hack aquilo que ele sempre sonhou: uma chance de trocar seu monótono trabalho para participar do lançamento do novo tênis Nike Mercury em uma ambiciosa campanha de marketing. Hack assina o contrato sem nem mesmo ler. Então descobre que seu papel na ação de guerrilha é entrar em uma loja da Nike durante o dia do lançamento e atirar em 10 pessoas aleatórias.
Todo mundo tem aqueles livros esquecidos na estante que você não sabe muito bem como foram parar ali. “Eu S/A” de Max Barry é um destes casos. A edição é de 2005 e eu muito provavelmente o comprei por essa época, talvez tenha sido bom eu não tê-lo lido antes.
A minha melhor definição para a obra de Barry é que se trata de uma distopia anarco-capitalista. No universo de Barry, os países se juntaram em grandes blocos econômicos, sendo o maior deles o EUA que passam a englobar praticamente todo o mundo – com excessão dos irredutíveis franceses, como o autor gosta de dizer –, a história se passa em grande parte na Austrália, “a Nova Califórnia” mais limpa, como dizem os panfletos de turismo.
Todas as grandes empresas que nós conhecemos estão neste livro, Nike, IBM, Monsanto, NRA, Pepsico, e sua força é tão colossal que elas se tornam parte do sobrenome das pessoas, definindo mesmo quem elas são. Os desempregados não tem sobrenome, pois não importam.
O sonho anacap se tornou realidade nos EUA. O governo é mínimo, as corporações se regulam para tornar a sociedade possível. Os impostos foram abolidos e todos os serviços governamentais são pagos, isso incluí os serviços de emergência que só atendem com a confirmação do cartão de crédito e a polícia que cobra das vítimas pela resolução de um crime. Contratos e advogados regulam tudo na vida das pessoas, deixando pouco a se fazer quando algo dá errado.
A concorrência entre as empresas é forte e muitas vezes desleal, sendo fiscalizada pelos agentes do Governo que precisam conseguir a verba implorando às vítimas pelo financiamento das investigações.
Jennifer Governo é uma desses agentes. Mesmo limitada pelo poder das corporações ela está empenhada em punir os culpados, alguns diriam que ela está obcecada. Ela tem um alvo. Ela tem uma pista. Ela tem um suspeito: John Nike.
Eu S/A mistura o prazer de um excelente thriller internacional com o horror de uma realidade cada dia mais próxima. Os diversos personagens da história fazem uma radiografia detalhada dos perigos aos quais estamos expostos, com executivos inescrupulosos tomando decisões imorais em nome do lucro, alegando estarem sendo perseguidos por “apenas ganhar dinheiro”.
Um livro repleto de sarcasmo e ironia, que consegue equilibrar a crítica social com ação e humor. Seus personagens são trágicos, obsessivos, manipuláveis, inescrupulosos e absolutamente humanos.
Leiam antes que seja proibido.
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