Outro dia me perguntaram o motivo pelo qual eu conto palavras. Me sugeriram focar na qualidade, ao invés da quantidade, como se ambas as coisas não pudessem caminhar juntas. No meu entender a técnica surge com a repetição, mas eu sei que nem tudo o que eu escrevi é feito para publicação. Enquanto conto as palavras, conto também todas as histórias ruins que não vão ter continuidade, todos os exercícios que não funcionaram, todas as notas que servirão de base para trabalhos futuros. Contar palavras me ajuda a sair da inércia. As vezes não tenho nada a dizer, mas começo a digitar até que surja alguma coisa. Em 90% dos casos o trabalho é mecânico e sem graça, mas nos 10% restante, a gente encontra inspiração o suficiente para continuar trabalhando.
No fim, sou uma espécie de acumulador. Venho empilhando histórias a anos, em cadernos que se deterioraram com o tempo, disquetes que não tem mais leitor, arquivos corrompidos e páginas soltas. Vez por outra fuço no lixo da minha memória e encontro algo que merece atenção. Espanto o pó, lustro, aparo umas pontas e levo adiante. Outras vezes largo um ideia quase finalizada, apenas porquê vi no horizonte algo mais bonito. O processo todo não é linear. Tem idas e vindas, começos e recomeços. As vezes trabalho meses como louco sem terminar nada. As vezes passo semanas finalizando coisas que já estavam praticamente prontas. Contar palavras é a única forma de acompanhar o quanto de trabalho foi feito e continuar me motivando, mas nem isso é 100% eficaz.
Chegar ao fim do dia com mil palavras escritas é realizador. Faz parecer que qualquer meta é atingível e quando não alcançamos a meta, procuramos por forma de fazer melhor no dia seguinte. Tentar escrever as palavras que faltaram.
Contar palavras também passa a te dar uma ideia de quais prazos são atingíveis e quais não são. A pouco menos de uma semana para o fim do prazo, eu descobri uma antologia com seleção aberta. O tema me agradava, o organizador me agradava, eu queria participar. Tinha algumas coisas escritas dentro da proposta da antologia mas nenhum com o tamanho necessário. Precisava de um conto novo. Cinco mil palavras em menos de uma semana. Deveria ser simples, mas eu tenho certa dificuldade com contos. Sou um maratonista. Qualquer coisa com menos de 20 mil palavras me dá claustrofobia, mesmo assim queria tentar. Dois dias antes do prazo tinha quase seis mil palavras prontas, foi preciso cortar, mas cheguei na meta. Fiquei tão animado que quis participar de outra antologia, contos até mil palavras, achei que resolveria em 2 dias, não foi nem de longe tão fácil. Quando o prazo começou a se esgotar, eu fui obrigado a revirar meu passivo criativo(o nome carinhoso da minha gaveta) em busca de uma ideia. Felizmente havia uma que quase se encaixava no critério de avaliação. O ajuste foi simples.
Tem outras antologias que quero participar esse ano. Também quero terminar alguns projetos pessoais. Incluindo aqui o volume 2 das Chamas do Império. É muito difícil conseguir fazer tudo o que a gente quer, mas fica mais fácil quando você tem metas claras e um plano de ação. Mil palavras por dia podem me levar lá. E vocês, quantas palavras escrevem por dia?
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