Ser escritor no Brasil é ter uma jornada dupla. Com raríssimas excessões, a maioria dos escritores sustentam sua obra através do trabalho em outras áreas. São poucos os afortunados que conseguem sustentar seu trabalho com atividades correlatas, como tradução, revisão, edição, etc. Um número surpreendentemente pequeno vive exclusivamente da venda de livro.
Comigo não é diferente. Apesar de ter a escrita como objetivo final e de dedicar todo tempo que eu posso a ela, ainda estou longe de pagar as contas de casa com meus livros. De fato, na ponta do lápis, provavelmente acumulei alguns investimentos na divulgação do meu trabalho.
A questão da remuneração de um autor é sempre motivo de polêmica. Existem aqueles que acham que um autor deveria focar no conteúdo gratuíto, que o que importa é ser lido. Outros vão dizer que não se deve fazer de graça algo que as pessoas deveriam pagar para conhecer. Eu vivo em um meio termo. Não acho que devo escrever de graça e não acho que tudo precisa ser pago.
Mas se eu não vivo da venda do livro, porquê eu simplesmente não o publico de graça? Talvez alguém pergunte. Para quem está chegando agora, o Teatro da Ira foi publicado originalmente como uma novela online, que ficou gratuita e disponível por mais de um ano (2011-2012), até que surgiu a proposta de publicação pela Editora Draco, uma experiência que para mim foi incrível. Escrever de graça e publicar na web foi a ferramenta que me ajudou a terminar um projeto que estava engavetado a anos.
Existe, porém, algo surpreendente que acontece quando você transforma seu conteúdo gratuito em um conteúdo pago. Algo que a maioria das pessoas vai negar, mas que está emaranhado na nossa mais primordial existência consumidora: nós confundimos preço com valor. Todo marketeiro sabe disso. Se você tiver dois produtos idênticos, o consumidor vai acreditar que o produto mais caro tem mais valor do que o mais barato.
Ao publicar por uma editora tradicional, com direito a revisor, capista, ilustrador, editor, assessor de imprensa, etc. Você passa, automaticamente, a valer mais do que valia quando sua obra estava disponível de graça, na internet, mesmo que o trabalho seja essencialmente o mesmo.
Ao publicar pela Draco eu ganhei mais leitores do que eu consegui durante todo o tempo em que publiquei sozinho, mesmo que meu esforço de divulgação tenha sido o mesmo.
Então tudo é vaidade? Não. Se você quiser levar a sério esse lance de ser escritor, a primeira coisa da qual precisa se livrar é da vaidade. A vaidade vai te fazer publicar coisas que não deviam ser publicadas. Vai te fazer ignorar o conselho de pessoas mais experientes. Vai te fazer pagar para publicar um livro ruim, apenas porquê não acreditou que o “não” era realmente um “não“. Faulkner dizia que na escrita você precisa matar todos os seus amores. Você precisa aprender a deixar de lado seu amor pelo texto para poder enxergá-lo de forma objetiva. A vaidade vai te impedir de fazer isso.
Mas se escrever não te trás fama e não te trás fortuna, porquê um escritor investe tempo e dinheiro em uma tarefa dessas? Simples. Escrever é uma obsessão. É um monstrinho que te rói o dia inteiro até que você se senta e coloca para fora uma idéia. É algo que te mantém vivo, nos melhores e nos piores dias. Escrever é um motor a explosão que dá sentido ao resto da sua vida. Basta uma frase para tornar válido toda uma semana de merda.
Escrevemos porquê isso nos faz vivos. Queremos leitores, para continuar escrevendo. Queremos dinheiro, para continuar escrevendo. Conseguir uma legião de leitores é só um caminho para que escrever deixe de ser essa atividade feita as escondidas entre uma tarefa chata e outra e passe a ser a única coisa que você precisa fazer da sua vida. É por isso que escrevemos. É por isso que publicamos. É por isso que vendemos nosso trabalho.
Nós vamos escrever, de uma forma ou de outra, mas se nós publicarmos e se existirem leitores que paguem por isso, nós vamos escrever ainda mais. E é isso o que todo escritor quer. Fechar o ciclo. Viver para escrever. Escrever para viver.
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