A primeira história de Khirk e Krulgar era bem diferente do Teatro da Ira. Dez anos já se passaram desde que ela foi escrita e acho incrível como os personagens tiveram sua própria evolução nesse tempo. Embora estivessem quase todos lá, Khirk, Krulgar, Círius, Thalla, etc, sofreram suas mutações. Algumas radicais, outras rarefeitas, mesmo assim contundentes. Um universo de coisas aconteceu entre essa primeira história e a história que eu resolvi efetivamente contar no Teatro da Ira. Muitas coisas da construção do mundo acabaram mudando, algumas questões da construção dos próprios personagens também mudaram, outras permaneceram as mesmas, se adaptando ao contexto. Dois casos interessantes pertencem a Thalla e a Khirk.
Khirk era um personagem bastante diferente nessas primeiras histórias. Era falador (sim) e levemente niilista, aproveitando os prazeres da vida com a certeza de que não havia um futuro possível. Sua personalidade era tão marcante que ele inevitavelmente roubava todas as cenas. Era difícil competir com ele e não raras vezes as pessoas concluíam que Krulgar era seu side-kick enquanto ele era o personagem principal, mesmo a história girando ao redor de um determinado evento crucial no desenvolvimento de Krulgar.
O carisma de Khirk acabou me obrigando a exigir mais de Krulgar e consequentemente o personagem evoluiu para não ter o brilho apagado pelo seu parceiro. A evolução dos dois personagens foi crucial para o desenvolvimento da história e acabou afetando o resto do mundo como um todo. Tudo deu um salto para acompanhar as peripécias de Khirk de forma que, admitamos ou não, ele se tornou meu herói pessoal para a criação do mundo, embora hoje ele esteja preferindo os bastidores.
O outro caso interessante é Thalla. Com ela aconteceu algo bastante diferente. A personagem permaneceu praticamente a mesma desde o dia em que surgiu no papel. As mesmas manias, os mesmos desejos, a mesma liberdade e a mesma força para domar as coisas na unha. Desde o início Thalla sempre foi um personagem controverso, com apoiadores e opositores. Alguns leitores a amavam de paixão, outros a odiavam com todas as forças. Apesar de reunir sobre si opiniões tão diversas (ou talvez justamente por isso) eu rapidamente cai de joelhos por Thalla. Desde a sua primeira linha, ela jogou sobre mim seus encantos, invadindo meus sonhos e me tornando mais um dos seus fiéis admiradores. Thalla não mudou nada, ou praticamente nada, nos últimos anos, em termos de descrição e personalidade, mas é um dos personagens que teve o papel na história mais alterado. Do começo ao fim, a função de Thalla hoje é completamente outra daquela que eu havia imaginado primeiro.
Publicar Thalla do jeito que a personagem é sempre foi uma dúvida. Havia a chance de adoçá-la um pouco, tornando-a mais agradável, encaixando-a naquela forma pré-moldada de heroína de histórias de ação, mas ao mesmo tempo havia uma resistência natural a que isso não acontecesse. Rebeldia dela, ou minha, seguimos juntos esse mesmo caminho.
O Teatro da Ira tem a sorte de ter alguns personagens de quem eu gosto muito. Tirando uma ou outra questão – ainda me arrependo de não ter transformado Riss numa mulher, por exemplo – acho que todos se adaptaram bem a história. Quanto ao seu futuro, ainda existe muita coisa para acontecer.
Outros personagens deverão surgir nos próximos capítulos e o universo deve se expandir. Talvez percamos de vista alguns deles por um tempo a medida em que a história se espalha pelo Império. Ainda é cedo para comemorar, mas fico feliz que os personagens estejam encontrando seus próprios fãs e opositores, como nossos filhos quando saem de casa.
Quais são seus personagens favoritos na história?
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