Nunca me considerei um escritor. Não de verdade. Embora eu escrevesse desde que me entendia por gente, tinha dificuldade em acreditar em mim mesmo como autor. Milhares de crônicas, centenas de contos, artigos largados ao vento. Romances tomando pó na estante ou inacabados na gaveta mais funda. Não era uma questão de quantidade, ou qualidade, era apenas uma sensação de vazio, uma incerteza comigo mesmo. Uma insegurança sobre o que eu podia, ou não, fazer dali em diante.
Quando lemos os conselhos de outros escritores, tem um que se repete com mais freqüência. Termine o que você começou a escrever. O que pouca gente entende é que “terminar” vai muito além de colocar o ponto final no livro e esquecê-lo em disquetes que não podem mais ser lidos. Terminar uma obra é levá-la as últimas conseqüências, ou deixá-la levá-lo a sua loucura absoluta. É reescrevê-la a exaustão, rumo a vitória ou a derrota completa. Para somente no fim descobrir se ela deveria ou não deixar o ninho de seus pensamentos. Justamente nesse ponto que eu falhava. Abandonei obras demais pelo caminho, sem jamais acreditar. Livros, são como filhos. Os autores são seus pais. Você os alimenta, os faz crescer, acompanha seu desenvolvimento, assiste seus primeiros passos e quando a hora chega, você assiste, impotente enquanto ele ganha o mundo para conquistar e partir outros corações.
Nesse processo de crescimento chega uma hora inevitável, onde surgem outras pessoas na vida de seu filho. Alguns vão fazê-lo sofrer, outros vão amá-lo tanto quanto você, mas todos eles vão contribuir para o seu crescimento. Editar é permitir ao seu filho aprender coisas que você não pode mais ensinar. Negar ao livro sua chance de ser revisado, editado, lido, é como isolar uma criança dentro de casa, para que ela não sofra nos rigores do mundo.
Nunca me considerei um escritor, pois nunca assisti a um livro sair pela porta da minha casa. É diferente agora. O Teatro da Ira recebeu sua chance, crescendo na mão de pessoas tão zelosas quanto eu. Agora que ele se prepara para debutar, apesar do nervosismo natural de um pai, eu não me sinto aflito, nem triste, nem preocupado. Resta apenas a sensação de dever cumprido.
O segundo conselho mais repetido pelos escritores mais experientes é. Comece imediatamente a escrever o próximo. Mas isso é assunto para outro dia.
There are no products |