Um mês atrás eu quebrei o pé tentando bancar o super-man em uma festa a fantasia. Certo, a história não é bem essa, mas contando assim fica muito mais engraçado. De molho, sem nada para fazer, exceto assistir séries sem fim e folhear os poucos livros que estavam a mão, eu resolvi que era hora de voltar aos antigos projetos que eu havia deixado de lado.
A idéia não era muito animadora. Eu tinha um milhão de problemas na cabeça e achava que não iria conseguir me concentrar em uma história de fantasia num momento em que tantos problemas materiais surgiam a minha frente. Ri de mim mesmo e me acusei de ser um escapistas. Voltei a minha temporada de Breaking Bad e as madrugadas absolutamente sem sono onde eu olhava classificados de imóveis.
Deveria ser a quinta ou sexta vez que eu desistia deste livro. A história estava me atormentando através dos anos, tendo inúmeros rascunhos abandonados e até uma primeira versão completamente esquecida em uma estante, da qual eu morria de vergonha. Quebrar o pé era só mais uma da série de desculpas que eu colocava entre mim e minha inabilidade de lidar com metas.
Este projeto, assim como outros, figuravam a tanto tempo nas minhas gavetas que parecia incômodo trazê-los a luz e eu só tinha um caderno com anotações sobre ele na mochila porquê uns meses atrás uma amiga minha, editora, me incentivou a fazer algo de que eu gostasse. Foi pensando nisso que eu apanhei meu caderno de anotações, que andava triste e isolado, e reli as últimas anotações, tentando decifrar meu próprio garrancho.
Para algumas pessoas escrever é um ato linear e higiênico. Alguns escritores se sentam confortavelmente diante dos seus computadores e digitam alegremente enquanto vão vendo seu livro se formar diante dos seus olhos, quase como se imprimissem uma idéia. Um aparelho de fax, recebendo uma mensagem de sua musa inspiradora. Para mim, era um pouco mais complicado.
Era estranho. A história em si parecia confusa. Os personagens pareciam aleatórios, embora na minha cabeça tudo fizesse um tremendo sentido. Deixei de lado um pouco a relação dos acontecimentos da história e me dediquei ao que chamei de relação de causa e efeito. O personagem quer algo, toma uma atitude e essa atitude tem um efeito. Que provoca outro desejo, outra atitude e mais um efeito…
Fui jogando com isso até que, de repente eu havia passeado por dez páginas que resumiam muito bem o que eu queria contar nessa história. Achei que eu estava pronto. Abri o msn, mandei uma mensagem pra minha amiga dizendo que talvez eu tivesse algo para mostrar a ela. Ela mandou eu enviar imediatamente e eu expliquei que precisava digitar, pois tinha feito tudo a mão. Do outro lado da tela, eu conseguia imaginá-la torcendo o nariz “lá vem outra desculpa”. Senti-me envergonhado. Abri o computador e comecei a transcrever as anotações do caderno, tomando cuidado de preencher os detalhes que até então só haviam estado na minha mente. Percebi que o trabalho ia bem além da transcrição do caderno. Engoli em seco.
Olhei para a tela do computador e reli as 3 páginas que eu havia digitado percebendo com alguma tristeza que eu não havia colocado nada daquilo nas anotações do caderno. De algum modo eu havia falhado. Fiquei desesperado. Tive vontade de sair correndo, mas meu pé estava quebrado, eu não podia ir a lugar algum pelas próximas semanas. Tinha todo o tempo do mundo e um problema indisculpável para resolver. Se ao menos eu não tivesse dito que tinha algo para mostrar… pensei em escrever novamente me desculpando, mas eu ia continuar parecendo louco.
Eu precisava arrumar um jeito de não fugir daquele problema. Uma maneira de me motivar a seguir adiante e dar vida aos personagens que me assombram a tanto tempo. Foi ai que nasceu a idéia de retomar este blog.
“As Chamas do Império” conta a história de dois aventureiros perdidos no meio de uma guerra entre o Império e os Separatistas enquanto tentam sobreviver a inimigos dos dois lados. Este blog vai contar a história de um escritor perdido no meio de seus próprios pensamentos, tentando colocar um livro do papel antes que ele o enlouqueça completamente. Sejam bem-vindos.
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