O dia em que a Terra parou
On May 11, 2020 | 0 Comments

A dúvida sobre a existência de vida inteligente fora da terra nunca existiu em casa. 

Uma das minhas muitas obsessões nesta vida terrestre é a possibilidade de estarmos sendo visitados por seres inteligentes vindos de fora. Não sei quando comecei a me interessar por este assunto, mas posso garantir que foi muito cedo. Tão cedo que parece que essa curiosidade sempre esteve lá me fazendo imaginar a vida fora da terra e o motivo para eles estarem aqui.

Quando Arquivo-X estreou no Brasil, em 1994, logo se tornou um compromisso semanal que eu tinha com a minha mãe. Durante uma hora, incluindo os intervalos, avançávamos com Fox Mulder e Dana Scully através das conspirações governamentais para esconder a grande verdade da população, enquanto discutíamos teorias da série e possibilidades da vida real.

A dúvida sobre a existência de vida inteligente fora da terra nunca existiu em casa. Só as questões sobre se seria possível que eles nos visitassem e se o fizessem, qual seria o motivo para estarem aqui. Meu pai, que jamais gostou de filmes ou séries, desdenhava de nós, chamando tudo de bobagem, exceto os episódios que envolviam fantasmas, pois essas coisas sim existiam.

Enquanto isso eu assistia filmes que diziam pouco, lia as edições antigas da revista Planeta que alguém tinha me dado de presente e subia no telhado de noite para olhar estrelas, cheio de assombro e maravilhamento, desejando ardentemente ter certeza, ao mesmo tempo em que temia a possível experiência. Esse sentimento nunca mudou.

A maturidade, porém, me tornou um cético. As pessoas confundem o sentido da palavra. Ser cético não é descartar absolutamente a possibilidade de algo, mas sim ter dúvidas. A partir do momento que você diz com certeza que algo não é possível, você já deixou de ser cético e passou a ter uma crença. Sou cético pois gosto de manter as possibilidades em aberto até o momento em que ela se prova impossível.

Dez anos após a estreia de Arquivo-X, em 2004, durante um exercício de treinamento militar, um Objeto Voador Não Identificado foi filmado. Levou outros quinze anos para que as imagens fossem divulgadas, então mais um ano para serem confirmadas autenticadas por autoridades do pentágono. Aqui é o momento em que gosto de lembrar que um OVNI não é um disco voador, se o fosse ele se chamaria Objeto Voador Identificado. A simples confirmação do pentágono de que existe algo acontecendo e eles não sabem dizer o que é, porém, já me basta.

No clássico da ficção científica “O dia em que a Terra parou” (1951), adaptação do excelente conto “Adeus ao Mestre” (1940) de Harry Bates, a resposta sobre a vida extra-terrestre é respondida quando recebemos a visita de um alienígena que literalmente para todas as engrenagens do planeta para que a humanidade ouça sua mensagem de paz, tornando-se uma advertência para os perigosos rumos que a humanidade enfrentava com seu engajamento na Guerra Fria.

Em 1977, durante a ditadura militar brasileira, Raul Seixas e Cláudio Roberto lançaram o single “O Dia em que a terra parou”, que atravessou incólume (e sem muito alarde, é verdade) os censores do regime militar, na descrição de uma greve geral que fazia com que todos ficassem em casa. Em um dos seus versos a letra diz: “E o paciente não saiu para se tratar, pois sabia que o doutor também não estava lá”.

O ano é 2020, uma súbita doença se espalhou, parando todo o mundo. Enquanto as pessoas se isolam em suas casas, com saudades de seus queridos, temendo a infeção e o desemprego decorrente da crise de saúde, os governantes se digladiam tentando apontar culpados. Estados Unidos testa um novo míssil nuclear, Rússia atesta que não aceitará provocações. Pentágono confirma vídeo de um OVNI dizendo que se ele for um inimigo, não existe chance de confronto. Os novos censores sufocam a verdade sobre uma tonelada de notícias falsas. A vida inteligente fora da Terra vai se tornando, rapidamente, uma possibilidade menos remota do que a vida inteligente na Terra.

Essa noite, eu tive um sonho de sonhador…”

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