Um gigante entre a novela e o conto
On July 30, 2015 | 5 Comments
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Concept Jack e o Matador de Gigantes

Todo o escritor deveria nascer do conto. É comum ouvirmos esse tipo de afirmação em oficinas de escrita ou grupos de escritores, mas para mim o conto é o segundo gênero mais difícil da literatura, perdendo por pouco para a sua irmã, poesia. Minha dificuldade com ambos é a mesma: resolver toda a complexidade de uma história em um espaço diminuto de palavras. Quantos contos eu perdi para dar lugar a novelas e noveletas? Quantos contos abandonei pela complexidade e falta de fôlego? O conto é o simples. E o simples é o complexo resolvido.

Isso não me impede de tentar, de me limitar e de continuar estudando, mas hoje confesso com uma boa dose de tranquilidade, que meu ambiente natural é o romance, quando muito a crônica leve. Escrevendo a história de “gigante” (provisório), que originalmente deveria sair numa coletânea de contos, logo me deparei com o desafio que seria me espremer entre meros 10 mil caracteres. Me senti como o gigante do título, espremido dentro de uma colina, em um túnel tão baixo que não podia ficar em pé. O que eram caracteres se tornaram palavras e eu pude acreditar que em 10 mil palavras eu poderia sair da minha caverna e experimentar o ar do lado de fora. Hoje tenho 5 mil palavras prontas e um dilema. Terminar um bom conto em 10 mil palavras, ou escrever uma ótima novela com talvez o dobro disso. Uma questão de estrutura, não de síntese.

A história que eu contaria em 10 mil palavras não é a mesma que eu contaria em 20 mil. Embora seu início seja o mesmo, embora seu desfecho seja parecido, estas dez mil palavras que existem a mais, espalhadas pelo meio ressignificam toda a história, de certa forma sendo até mesmo mais condizente com o clima melancólico do enredo. Não é uma questão de simplesmente cortar cenas, ou reduzir personagens. É uma questão de profundidade.

Um dos meus mantras é lembrar que nem todas as histórias merecem ser romances. Nem toda história merece o tempo gasto para que seja contada, ou lida. Por outro lado, nem toda história merece realmente ser contada e não são poucas aquelas que nunca serão. Para um conto gasta-se mais tempo no corte do que na escrita. Na lapidação do que no molde. O conto é a arte de polir o excesso e é por isso que eu admiro os bons contistas, aqueles que não encurtaram a sua história, não a limitaram a um caldo ralo, mas a reduziram e encorparam, eliminando suas impurezas, tornando clara sua intenção. Nem toda história merece ser um romance, mas somente algumas poucas tem substância para ser conto.

Acho que “Gigante” vai existir naquele estreito espaço entre uma coisa ou outra. O formato noveleta que anda me servindo tão bem, onde nasceu “Mastim“, “Coroa“, “Sementes”, e outros trabalhos ainda não finalizados. Algo entre 20-50 mil palavras, com tempo de sobra para respirar. É melhor ser um maratonista competente, do que um velocista medíocre.

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