Dez livros que me influenciaram – parte I
On October 7, 2014 | 2 Comments

Listar é limitar, mas é também pensar sobre os itens. Quando me propus a fazer uma lista com os livros que me influenciaram a escrever Chamas do Império, eu sabia que estava mexendo em um vespeiro. A inspiração está em todo lugar, não só nos livros, mas nos filmes, nas músicas, nos diálogos que ouvimos durante o dia, nas conversas que temos no bar, mas cada coisa ao seu tempo. Eu já havia falado sobre isso antes, mas agora chegou a hora dos livros, estes monstrinhos que se infiltram pelos nossos olhos e fazem ninhos em nossa cabeça. Esta lista contem os 10 livros que mais participaram do Chamas do Império lá atrás, no seu projeto mais germinal, quando ele não tinha esse nome e seguia um rumo um pouco diferente, até se cristalizar no formato que ele tem hoje. São os livros que foram a faísca de tudo o que eu fiz depois deles. Que os deuses me perdoem pela injustiça que vou cometer. Como o texto acabou ficando muito grande, eu o dividi em duas partes.

1. As brumas de Avalon, Marion Zimmer Bradley

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As brumas de Avalon se tornaram um marco para mim, por desconstruir tudo o que eu sabia sobre o Rei Arthur depois de ler O Único e Eterno Rei de T.H. White – O leitor mais atento percebeu que eu acabei de trapacear e colocar mais um livro na minha lista – Quem aquelazinha pensava que era para escrever meus personagens favoritos daquela forma? E para piorar, colocando as mulheres no foco principal da história. Meu ódio adolescente não deve ter durado mais do que duas páginas, depois eu estava ocupado demais acompanhando a luta de Morgana para preservar a religião antiga, contra a invasão dos monges cristãos. Como eu odiei Guinevere! Como torci por Merlin (sim, por todos eles). As brumas de Ávalon foi uma lição de humildade que eu vou levar por toda a minha vida. Jamais menosprezar uma história. Mesmo aquela que você acha que já conhece. Zimmer aparece no Chamas do Império através de alguns rituais pagãos que foram absorvidos pelos meus dhäeni, através de personagens femininos mais interessados na ação e, é claro, nas Brumas. A capital do Império, Andernofh, fica no Vale na Névoa, ao exemplo da antiga Avalon. Mas enquanto Avalon é uma ilha, Andernofh se perde em labirintos de dentro para fora.

2. O senhor dos anéis, J.R.R. Tolkien

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Impossível uma lista deste tipo sem falar de Tolkien. Segurar uma espada entre os dedos e seguir em uma jornada através do mundo nunca mais significou a mesma coisa, desde que Tolkien lançou sua obra. Mas não apenas na construção de cenários grandiosos e raças maravilhosas Mestre Tolkien me arrebatou. De fato, ele me agarrou pelos tornozelos um pouco antes disso, no seu livro anterior, o Hobbit, quando o pequeno Bilbo encontra um anel… Aprendi a valorizar os pequenos detalhes, as coisas que parecem sem importância. Quando o Um Anel aparece no Hobbit, não temos idéia de que aquele pedacinho de ouro vai se tornar o motivo de toda uma guerra nos livros que vêm depois. Tolkien plantou a sementinha e deixou ela germinar em uma árvore frondosa. Usei essa estrutura em algumas idéias do Chamas do Império, largando aqui e ali algumas sementes que vão ganhando força com o tempo. Não dá pra dizer mais, sem spoilers. Os dhäeni foram, em boa parte, baseados nos elfos, embora não tenham nem de longe a sua majestade e grandeza.

3. O homem que não se vê, Geza Gárdonyi

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Não é um livro muito conhecido. Achei minha edição em um sebo e só comecei a ler, por falta de opção, mas depois que comecei não consegui parar até chegar ao seu final. Conta a história de Átila, o Huno, do ponto de vista de um de seus escravos. Fui completamente arrebatado pela visão do terrível flagelo de Roma. Átila sempre foi um dos meus vilões históricos favoritos e fui surpreendente vê-lo como protagonista de sua história. Eu torci por Átila. Eu matei com Átila. Eu pilhei com Átila e nunca mais cheirei a civilização da mesma forma. Gárdonyi conseguiu me presentear com um dos melhores anti-heróis de todos os tempos e de quebra eu ganhei um rascunho do que eu imaginava ser a personalidade de Krulgar. Desconfiado, meio selvagem e bastante avesso as estruturas tradicionais de poder.

4. Musashi, Eji Yoshikawa

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Se você não leu Musashi, pare tudo o que você está fazendo agora e abra o livro. Se você não tem Musashi na sua biblioteca, corte uma falange do seu mindinho e peça perdão aos seus ancestrais. Musashi foi uma novela escrita pelo grandioso Eji Yoshikawa para ser publicada no jornal diário do Japão. Eu simplesmente não entendo como ninguém acabou seqüestrando Yoshikawa para obrigá-lo a contar o fim da história. Yoshikawa é para mim o maior mestre do cliffhanger, que é quando a cena termina no momento mais tenso da história e você fica doido para saber o que vêm depois. A história gira em torno de Miamoto Musashi, um espadachim sem mestre, que vaga pelo Japão para aprender o manejo da espada, mas ao invés de pedir por aulas aos grandes Mestres, ele aprende da única forma que sabe: lutando. Paralelo a isso tem uma história romântica entre Musashi e o amor da sua juventude, que lutam para se reencontrar. Musashi existiu de verdade e é uma figura histórica importante no Japão, escrevendo inclusive um livro de sabedorias chamado O livro dos Cinco Anéis, sobre como ele encontrou a iluminação através do caminho da espada. Além de me ensinar o cliffhanger, Yoshikawa me ensinou que as vezes as histórias mais inverossímeis também são reais.

5. As crônicas de Artur, Bernard Cornwell

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Levei meses até tomar coragem de ler As Crônicas de Artur. Como alguém tinha coragem de desafiar os territórios dominados por Marion Zimmer Bradley? (Sim, eu já tinha dito isso, mas demorei a aprender) Achava simplesmente impossível alguém ter algo a acrescentar às Brumas de Avalon e por todos os deuses, como eu estava enganado. Bernard Cornwell tinha conseguido juntar o histórico e o mítico, o real e o fantástico, a verdade e a mentira de tal forma que era simplesmente impossível pensar que a verdadeira história de Arthur não tivesse acontecido daquele jeito. Ele virou de pernas para o ar, todos os personagens que nós conhecemos, heróis viram vilões, valentes viram covardes, traidores viram fiéis e você se envolve em cada batalha de tal forma que termina o livro fazendo ataduras para seus ferimentos de guerra. Sempre falo sobre Bernard Cornwell como a minha grande inspiração de todos os tempos e foi aqui, com Arthur, que eu me dei conta de quem eu queria ser depois que eu crescesse. Cornwell se tornou o nome de uma família nobre em Karis. Ele me ensinou a valorizar as cenas de batalha, a ferir e sacrificar personagens e principalmente, que bem e mal não existem exceto nos discursos de guerra. O destino é inexorável! Mas minha lição ainda não tinha terminado.

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